The Project Gutenberg EBook of Estudo de Guitarra, by Antonio da Silva Leite This eBook is for the use of anyone anywhere in the United States and most other parts of the world at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.org. If you are not located in the United States, you will have to check the laws of the country where you are located before using this ebook. Title: Estudo de Guitarra Subtitle: Em que se Expoem o Meio Mais Facil para Aprender a Tocar este Instrumento Author: Antonio da Silva Leite Release Date: November 07, 2020 [EBook #63664] Language: Portuguese Character set encoding: UTF-8 Produced by: Paul Marshall, Júlio Reis and the Online Distributed Proofreading Team at https://www.pgdp.net *** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK ESTUDO DE GUITARRA *** ESTUDO DE GUITARRA, EM QUE SE EXPOEM O MEIO MAIS FACIL PARA APRENDER A TOCAR ESTE INSTRUMENTO: _DIVIDIDO EM DUAS PARTES._ A PRIMEIRA CONTEM AS PRINCIPAES REGRAS DA MUSICA, E DO ACCOMPANHAMENTO. A SEGUNDA AS DA GUITARRA; A que se ajunta huma Collecçaõ de _Minuetes_, _Marchas_, _Allegros_, _Contradanças_, e outras _Peças_ mais usuaes para desembaraço dos Principiantes: tudo com accompanhamento de Segunda _Guitarra_. OFFERECIDO Á ILLUSTRISSIMA, E EXCELLENTISSIMA SENHORA D. ANTONIA MAGDALENA DE QUADROS E SOUSA, _SENHORA DE TAVAREDE_. POR ANTONIO DA SILVA LEITE, _Mestre de Capella, natural da Cidade do Porto_. [Ilustração] PORTO, NA OFFICINA TYPOGRAFICA DE ANTONIO ALVAREZ RIBEIRO, Anno de M.DCC.XCVI. _Com licença da Mesa do Desembargo do Paço._ Vende-se na mesma Officina na rua de S. Miguel, nas casas N.ᵒ 260, e na rua das Flores, na loja de Livros á esquina da travessa do Ferraz. _Interiora amimi penetrat, animumque vehementissime pulsat._ Plato in tertio Reipubl. Foi taxado este livro em papel a 1200 reis. Lisboa 15 de Março de 1796. _Com seis Rubricas._ ILLUT., E EXCELLENT. SENHORA. _O desejo de ser util aos Patricios amantes da Musica, concorrendo com as minhas fracas luzes, alcançadas pelo estudo, e applicaçaõ em que me tenho empregado desde a infancia; concorrendo, digo, para o approveitamento dos que se deleitaõ com o honesto, e grato prazer que causa esta Arte Scientifica, de que tambem resulta em parte a cultura das grandes Cidades: esse foi o que me obrigou, além de outras Composiçoens, em que tenho trabalhado, a escrever tambem sobre o suave, e harmonico Instrumento da_ GUITARRA, _taõ applaudida neste tempo, por todos os que sabem deleitar-se com a doçura da harmonia; e o que me anima a dár á luz este breve Opusculo, em que exponho com a possivel clareza as Regras conducentes para aprendello com facilidade; e a applicaçaõ pratica das mesmas nos_ MINUETES, MARCHAS, etc. _que offereço juntos: o mesmo desejo he o que igualmente me inspira o arrojo de pertender dar-lhe o valor, que naõ tem, ennobrecendo-o com o Illustre, e Respeitavel Nome de_ V. EXCELLENCIA. _Sim_, ILLUSTRISSIMA, e EXCELLENTISSIMA SENHORA, _naõ he só a reverente, e sincera veneraçaõ com que respeito a_ V. EXCELLENCIA, _como felice Consorte do Illustrissimo, do Sabio, e Zeloso Senador, que com tanto zelo promove a felicidade, e esplendor da minha Patria; e a quem eu sou devedor de memoraveis beneficios: naõ he ainda a gloria que me resulta de ser o primeiro, que me lembro de ir aos Pés de_ V. EXCELLENCIA _com huma offerta scientifica, e que pelo objecto, naõ desmerecerá a Attençaõ do seu Discreto Espirito: naõ saõ estes sentimentos o estimulo da minha ousadia; ainda assim eu me julgaria réo de imprudente atrevimento de deslustrar o Illustre Nome de_ V. EXCELLENCIA, _estampando-o juntamente com o meu, se me naõ animassem sentimentos mais dignos do Nobre, e Generoso Animo de_ V. EXCELLENCIA. _O contemplar em_ V. EXCELLENCIA _a generosa benignidade que caracteriza o seu Coraçaõ, e que brilha entre as Insignes, e Illustres Qualidades de que o Ceo a dotára, e a fazem crédora da justa veneraçaõ com que a respeitaõ todos, os que tem a ventura de admiralla: o contemplar em_ V. EXCELLENCIA _hum Coraçaõ magnanimo, todo empenhado na felicidade dos Portuenses, e possuido dos beneficos sentimentos com que_ V. EXCELLENCIA _verifica ser hum só o Coraçaõ, que a anima, e ao seu Illustrissimo Esposo, como quiz o Divino Instituidor do Felice Consorcio, a que a destinara a sabia Providencia; Isto_, ILLUSTRISSIMA, E EXCELLENTISSIMA SENHORA, _isto he o que me anima a esperar de_ V. EXCELLENCIA _se dignará proteger os meus sinceros desejos; e consentir, que eu procure offuscar os defeitos desta obra com o esplendor do Illustrissimo Nome de_ V. EXCELLENCIA. _O Público a verá entaõ sem fastio, e julgando util a Doutrina, que mereceu a approvaçaõ de_ V. EXCELLENCIA, _tirará della o fructo que desejo; e eu darei por felicissimo o meu trabalho._ _Prospere o Senhor, e dilate para felicidade minha, e da minha Patria, a Preciosa Vida de_ V. EXCELLENCIA, _cuja Maõ bejo reverente, e agradecido á grande honra da sua benigna Protecçaõ._ _ILL.ᵐᵃ, e EX.ᵐᵃ SENHORA_ _De_ V. EXCELLENCIA _O mais humilde, e reverente Criado._ Antonio da Silva Leite. PROLOGO. Amigo Leitor, por vêr o quanto me há sido custoso, na multidaõ dos Discipulos, que hei tido de _Guitarra_, o estar para cada hum delles escrevendo, naõ só as necessarias Regras do mesmo Instrumento, como depois destas varios _Minuetes_, _Marchas_, _Allegros_, _e Contradanças_, _etc._ he, naõ só por esta razaõ, como por evitar trabalho, e perda de tempo, que me propuz a dar ao Prélo esta pequena Obra, na qual recopilei tudo o que julguei necessario para huma primaria instrucçaõ: e porque naõ sendo estas Regras arbitrarias, as vejo viciadas por muitos Tocadores; e porque tambem muitos dos mesmos _Minuetes_, _Marchas_, _etc._ que transcrevo nesta mesma Obra, os vejo irregularmente escriptos, principalmente nas segundas _Guitarras_, que sendo compostas por sugeitos curiosos, que nada sabem de _Contraponto_, estaõ a cada passo commettendo erros os mais notaveis; por tanto, tomando este pequeno trabalho, cuidei em pôr tudo com aquella ordem, e clareza, que julguei mais confórme á razaõ: se te quizeres instruir, pódes usar sem escrupulo della, e se te notarem de algum defeito recebido pela mesma instrucçaõ, dize ao tal contendente, que existo no Porto, de donde poderei com promptidaõ satisfazer ás suas objecçoens. _Vale._ [Ilustração] ESTUDO DE GUITARRA. PARTE I. §. I. _Da Musica._ A Musica he Arte, porque dá preceitos para se poder tocar; e cantar com acerto. Divide-se esta em _Theoretica_, e _Pratica_. A Musica _Theoretica_, he a que comprehende os preceitos, e dá a razaõ: e a _Pratica_, he a que se faz executando os mesmos preceitos, ou tocando, ou cantando. §. II. _Dos Signos._ Ordena-se a Musica por sette differentes letras, a que a Arte dá o nome de _Signos_, que saõ: _A, B, C, D, E, F, G._ Estes devem tambem saber-se ás avessas, dizendo por este modo: _G, F, E, D, C, B, A._ §. III. _Das Linhas, e Espaços._ As primeiras bases, sobre que a Musica se sustenta, saõ as _Linhas_, e os _Espaços_. _Linhas_, saõ huns riscos, que atravessaõ o papel da parte esquerda para a direita. _Espaços_, saõ os claros, que ficaõ de permeio entre as mesmas _Linhas_. Há na Musica _Linhas_, e _Espaços naturaes_, e _accidentaes_. As _Linhas naturaes_ saõ cinco, e os _Espaços_ quatro: e as _accidentaes_, pódem suppôr-se pela parte superior até quatro, e pela inferior até duas, com os seus respectivos espaços, como mostro no seguinte _EXEMPLO._ [Ilustração: Accidentaes superiores] ------------------------------------------ A s c u 9.ᵃ c p 8.ᵒ esp. i e 8.ᵃ d r 7.ᵒ esp. e i 7.ᵃ n o 6.ᵒ esp. t r 6.ᵃ a e 5.ᵒ esp. e s s ------------------------------------------ N { 5.ᵃ a { 4.ᵒ esp. t { 4.ᵃ u { 3.ᵒ esp. r { 3.ᵃ a { 2.ᵒ esp. e { 2.ᵃ s { 1.ᵒ esp. { 1.ᵃ ------------------------------------------ 1.ᵒ esp. Accidentaes inferiores { 1.ᵃ { 2.ᵒ esp. { 2.ᵃ §. IV. _Das Claves._ O Primeiro signal que se costuma assignar nas _Linhas_, he a _Clave_, a qual serve para fitar os signos nas _Linhas_, e _Espaços_. Há na Musica tres _Claves_, a saber: _Clave de F., Clave de C., e Clave de G._ A _Clave de F._ assigna-se na quarta linha; a de _C._, póde-se assignar na 1.ᵃ, 3.ᵃ ou 4.ᵃ; e a de _G_., que he a _Clave_ propria da Guitarra, assigna-se na 2.ᵃ. As suas fórmas se mostraõ no seguinte _EXEMPLO._ [Ilustração: _Clave de F._ _Claves de C._ _Clave de G._] §. V. _Do Conhecimento dos Signos._ Como a _Clave_ he a que fita os Signos nas _Linhas_, e _Espaços_; para se conhecerem os seus proprios lugares, se hirá applicando a cada _Linha_, e _Espaço_ o seu competente Signo, e para isto se deve advertir, que os Signos para cima da Clave, contaõ-se sempre ás direitas, e para baixo ás avessas: e como a Clave de _G_., he a que compete á Guitarra; por tanto se mostraõ todos os Signos, comprehendidos nos pontos, que tem a mesma Guitarra, no seguinte _EXEMPLO._ --g---------- f --e-------------- d --c------------------- b --a------------------------ g -------------------f------------------------------ T e r C -------------d------------------------------------ e l c b e --------b----------------------------------------- l f a e --g-----------------------g----------------------- f --------------------------------e----------------- d -----------c--- [Ilustração: A-10] §. VI. _Dos Accidentes._ Depois da _Clave_, sendo a composiçaõ da Musica do genero Chromatico, seguem-se os _Accidentes_, os quaes saõ certos signaes que significaõ alteraçaõ, e diminuiçaõ. Os _Accidentes_ saõ tres, a saber: _Sustenido_, _B-mol_, e _B-quadro_: o _Sustenido_ faz levantar meio ponto mais á figura, a que estiver applicado; o _B-mol_ faz diminuir; e o _B-quadro_ faz pôr a figura, que tiver _Sustenido_, ou _B-mol_, no seu natural: as suas fórmas se mostraõ no seguinte _EXEMPLO._ [Música: Sustenido. B-mol. B-quadro.] §. VII. _Da ordem de assignar os Accidentes._ Podem assignar-se depois da _Clave_ até sette _Sustenidos_, e outros tantos _B-moes_; a ordem de os assignar he esta: o 1.ᵒ _Sustenido_ assigna-se em _F._, o 2.ᵒ em _C._, o 3.ᵒ em _G._, o 4.ᵒ em _D._, o 5.ᵒ em _A._, o 6.ᵒ em _E._, e o 7.ᵒ em _B._; e os _B-moes_ assignaõ-se pelo contrario dos _Sustenidos_: o 1.ᵒ em _B._, o 2.ᵒ em _E._, o 3.ᵒ em _A._, o 4.ᵒ em _D._, o 5.ᵒ em _G._, o 6.ᵒ em _C._, e o 7.ᵒ em _F._ §. VIII. _Dos Accidentes Originaes, e Accidentaes._ Os _Accidentes_, que se assignaõ depois da _Clave_, chamaõ-se _Originaes_, porque guiaõ em toda a peça; e os outros que occorrem pelo meio da mesma peça, chamaõ-se _Accidentaes_, porque guiaõ unicamente naquelle compaço, em que positivamente vem assignados. §. IX. _Dos Tempos._ Depois da _Clave_, ou dos _Accidentes_, seguem-se os _Tempos_, que servem para dar valor ás figuras. Os _Tempos_ saõ tres, a saber: _Tempo Quaternario_, _Ternario_, e _Binario_. O _Tempo Quaternario_, assigna-se com hum _C_ entre as linhas naturaes, e a este mesmo tempo pertence por derivaçaõ o tempo numerario de 12 por 8. O _Ternario_ assigna-se com hum numero de 3, ou de 9, posto sobre o numero 1, 2, 4, ou 8; e o _Binario_ assigna-se com hum _C_ cortado com hum risco, a cujo tempo chamaõ _de_ _Capella_, ou com hum numero de 2, ou de 6, posto sobre o numero 4, ou 8, como tudo se mostra no seguinte _EXEMPLO._ [Música: Tempo Quaternario. Ternario. Binario.] §. X. _Do Compaço._ Os _Tempos_ medem-se com o _Compaço_, o qual he hum movimento recto, que se faz, quando se canta, com a maõ, e quando se toca, com o pé. O Compaço do tempo _Quaternario_ faz-se de quatro partes, dando duas pancadas no chaõ, e outras duas no ár: o Compaço do tempo _Ternario_, faz-se de tres partes, dando duas pancadas no chaõ, e huma no ár; e o Compaço do tempo _Binario_, faz-se de duas partes, dando huma pancada no chaõ, e outra no ár, tudo com indefectivel igualdade. §. XI. _Das Figuras._ Para fitar os Sons, tanto da voz humana, como dos instrumentos, usa a Musica de 10. differentes figuras que saõ: _Maxima_, _Longa_, _Breve_, _Semibreve_, _Minima_, _Seminima_, _Colchêa_, _Semicolchêa_, _Fusa_, _Semifusa_: acada huma destas figuras, correspondem outras tantas pausas, que saõ _pausa de Maxima_, _pausa de Longa_, _etc._[1] As suas fórmas se mostraõ no seguinte [1] As tres primeiras figuras já se naõ usaõ na Musica moderna, e muito principalmente na da Guitarra; o que está em praxe saõ as suas competentes pausas, e nada mais: advertindo porém, que a pausa de Maxima saõ verdadeiramente duas de Longa. _EXEMPLO._ [Música: Maxima. Longa. Breve. Semibreve. Minima. Pausa. Pausa. Pausa. Pausa. Pausa. Seminima. Colchêa. Semicolchêa. Fusa. Semifusa. Pausa. Pausa. Pausa. Pausa. Pausa.] §. XII. _Do valor das Figuras._ No tempo _Quaternario_, vale a _Maxima_ oito Compaços; a _Longa_ quatro, a _Breve_ dous, a _Semibreve_ hum, a _Minima_ vale meio, e vaõ duas ao Compaço, _Seminimas_ vaõ quatro, _Colchêas_ oito, _Semicolchêas_ desaseis, _Fusas_ trinta e duas, e _Semifusas_ sessenta e quatro; e este mesmo valor teráõ as suas competentes pauzas.[1] §. XIII. _Da Sincopa, ou Contra-tempo._ Quando as figuras occupaõ as partes intermedias do Compaço, tomando já huma, já outra parte, sem assentar em alguma dellas, como por exemplo: se no tempo _Quaternario_ entrasse em hum Compaço huma _Colchêa_ com trez _Seminimas_ consecutivas, e huma _Colchêa_ no fim, he isto o que se chama _Sincopa_, ou _Contra-tempo_. §. XIV. _Da Derivaçaõ dos Tempos Numerarios._ Os _Tempos Numerarios_, derivaõ-se todos do _Quaternario_, e por isso, para se fazer esta derivaçaõ com regularidade se attenderá, que o numero da parte inferior, mostra sempre as figuras que entraõ ao Compaço no tempo _Quaternario_, e o da parte superior mostra, e diz, que em lugar de irem aquellas figuras, que mostra o numero da parte inferior, que hiaõ no tempo _Quaternario_ ao Compaço, haõ de ir tantas da mesma qualidade, quantas o numero superior indica; e assim v. g. 3/8, quer dizer, que em lugar de 8 _Colchêas_, que hiaõ no tempo _Quaternario_ ao Compaço, neste haõ de ir sómente 3; e esta mesma ordem se entenderá a respeito de todos os de mais tempos: no tempo porém de _Capella_, vaõ as mesmas figuras, que no _Quaternario_, com a differença, que neste, como se faz o Compaço de duas partes, se ha de dar huma Minima no chaõ, e outra no ar. §. XV. _Da Numeraçaõ das tres primeiras Pausas nos Tempos Numerarios._ As tres primeiras _Pausas_, que saõ: _Pausa de Longa_, _Pausa de Breve_, e _Pausa de Semibreve_, nos _Tempos Numerarios_ naõ valem, mas sim numeraõ como no _Tempo Quaternario_. Huma _Pausa de Longa_ numera 4 Compaços, duas juntas 8, huma de _Breve_ 2, e huma de _Semibreve_ 1.[2] [1] Na ordem destas Figuras qualquer que se nomeie a diante, vale sempre ametade da que lhe fica antecedente; e assim, huma _Minima_, vale ametade de hum _Semibreve_: huma _Seminima_, ametade de huma _Minima_: huma _Colchêa_, ametade de huma _Seminima_, etc. De sorte que, se gastarmos v. g. hum minuto em hum _Semibreve_, gastaremos meio em huma _Minima_; e assim nas demais á proporçaõ destas. [2] No tempo de 3 por 1, (que raras vezes se encontra) a pausa de _Semibreve_ vale huma parte do Compaço, a de _Breve_ vale 1 Compaço, a de _Longa_ 2, e duas juntas 4. §. XVI. _Dos Andamentos._ Quem determina, e annuncia o movimento mais, ou menos vagaroso, e mais, ou menos apressado, que devemos dar no _Compaço_ de todos os _Tempos_ da _Musica_, saõ os _Andamentos_; os quaes saõ certos vocabulos, que se costumaõ assignar na frente de qualquer Peça, para lhe designar a marcha, que ha de ter. Os _Andamentos_, que mais se usaõ, saõ cinco; a saber: _Largo_, _Adagio_, _Andante_, _Alegro_, e _Presto_, que em Portuguez significaõ: _Lento_, _Moderado_, _Elegante_, ou _Gracioso_, _Alegre_, e _Rápido_. _Largo_,[1] annuncia hum _Andamento_ o mais vagaroso. _Adagio_,[2] annuncia hum _Andamento_ vagaroso, porém mais apressado, que o _Largo_. _Andante_,[3] annuncia hum _Andamento_ mais apressado, que _Adagio_. _Alegro_,[4] annuncia hum _Andamento_ alegre, e o mais vivo de todos, depois do _Presto_. _Presto_,[5] indica o mais prompto, e o mais apressado de todos os _Andamentos_ estabelecidos. Estes cinco _Andamentos_ subdividem-se em quatro mais, que saõ: _Larguetto_, _Andantino_, _Alegretto_, e _Prestissimo_. _Larguetto_, annuncia hum _Andamento_ pouco menos vagaroso, que o _Largo_; mais que o _Andante_ e quasi como o _Andantino_. _Andantino_, indica hum _Andamento_ com alguma alegria menos no compaço, significando o diminutivo _Larguetto_ totalmente o contrario, como he preciso observar. _Alegretto_, indica hum _Andamento_ com huma alegria mais moderada, e no compaço alguma actividade menos. _Prestissimo_, superlativo de _Presto_, he de todos os _Andamentos_, o que indica o movimento mais apressado. Além destes ha outros, que indicaõ de mais o caracter, e expressaõ da Peça, que se ha de tocar, assim como: _Amoroso_, _Agitatto_, _Vivace_, _Gustoso_, _Affectuoso_, _Moderatto_, _Magestoso_, _Com brio_, _etc._ _Amoroso_.[6] Esta palavra escrita na frente de huma Aria, indica hum _Andamento_ doce, e vagaroso, de sons tecidos graciosamente, e animados com huma expressaõ terna, e tocante. _Agitatto_, indica hum _Andamento_ apressado, com alguma actividade, que indique furor, e agitaçaõ. _Vivace_. Esta palavra Italiana, indica hum _Andamento_ alegre, prompto, e animado; e huma execuçaõ atrevida, e cheia de fogo. _Gustoso_, indica hum _Andamento_ expressivo, agradavel, e que causa contentamento. _Affectuoso_, indica hum _Andamento_, que mova os affectos d'Alma. _Moderatto_, indica hum _Andamento_, nem muito vagaroso, nem muito apressado; mas sim medio entre estes dous _Andamentos_, isto he, moderado. _Magestoso_, indica hum _Andamento_ grave, e cheio de magestade. _Com brio_ finalmente, indica hum _Andamento_ apressado, porém que na expressaõ seja revestido de garbo, e brio. [1] Na Peça de Musica, que na sua frente tiver este vocabulo _Largo_, se o _Tempo_ for _Quaternario_, ha de fazer-se o compaço de oito partes, dando duas pancadas em cada huma parte; sendo _Ternario_, ha de fazer-se de seis; e sendo _Binario_, de quatro. [2] _Adagio_, he hum adverbio Italiano, que significa _devagar_. [3] _Andante_, he o partecipio do verbo Italiano _andare_, andar, ir, etc. [4] Por esta palavra naõ se deve julgar, que hum tal _Andamento_ seja proprio unicamente para assumptos alegres: muitas vezes se applicaõ a transportes de furor, de cólera, e de desesperaçaõ, que naõ saõ menos, que a alegria. [5] _Presto_, significa _rápido_, e ajuntando-lhe este adverbio Italiano _assai_, que quer dizer _muito_; como v. g. _Presto assai_, ou _Largo assai_, _etc._ significa o mesmo, que o superlativo _muito depressa_, _muito devagar_, _etc._ [6] Os Francezes servem-se do adverbio _Tendrement_, que em Portuguez significa _Ternamente_, para exprimir o mesmo, que _amoroso_: mas o caracter _amoroso_ tem mais accento, e respira hum naõ sei que de menos insipido, e mais apaixonado. §. XVII. _Dos Signaes significativos._ Os signaes significativos, de que finalmente usa a Musica, além dos que temos ponderado, saõ 13, a saber: _Esses_, _Guiaõ_, _Travessaõ_, _Ligadura_, _Ponto de augmentaçaõ_, _Tres-que-altera_, _Seis-que-altera_, _Communia_, _Repetiçaõ_, _Al segno_, _Sino al segno_, _Da Capo_, e _Pausas geraes_. As suas fórmas se mostraõ no seguinte _EXEMPLO._ [Música: Esses. Guiaõ. Travessaõ. Ligadura. Pont. de augm. 3-Que-altera. 6-Que-altera. Communia. Repetiçaõ. Al segno. Sino al segno. Dá Capo. Pausas geraes.] _Esses_, denotaõ repetir o compaço, ou compaços, que ficaõ entre elles. _Guiaõ_, serve para mostrar a figura, que vai para a seguinte regra, ou lauda. _Travessaõ_, serve para dividir os compaços. _Ligadura_, serve para de duas figuras fazer huma, seja de igual, ou desigual valor. _Ponto de augmentaçaõ_, augmenta mais ametade do valor á figura, que lhe fica atraz[1]. [1] Adiante de pausa, nunca se deve pôr _Ponto de augmentaçaõ_, porque este unicamente augmenta o sôm, e naõ a espéra; porém como alguns Compositores erradamente o assignaõ, deve-se estar prompto para tambem assim o decifrar. _3-Que-altera_, quer dizer, que daremos por alteraçaõ deminutiva tres figuras no tempo, em que houveramos de dar duas da mesma qualidade. _6-Que-altera_, quer dizer, que daremos pela mesma alteraçaõ deminutiva seis figuras, no tempo em que houveramos de dar quatro da mesma qualidade. _Communia_,[1] serve para parar por algum pequeno espaço. _Repetiçaõ_, serve para repetir duas vezes aquella parte, que tiver o seu signal. _Al segno_, significa repetir a Musica só do signal apontado, e naõ do principio. _Sino al segno_, denota repetir a Musica do fim ao principio, unicamente até o signal, que vier apontado[2]. _Da Capo_, que em breve se assigna D. C., he para se tornar ao principio. _Pausas geraes_, servem para finalizar a composiçaõ. §. XVIII. _Dos Signaes expressivos._ Os _Signaes expressivos_, que servem para o bom gosto, e graça do que se toca, saõ nove, a saber: _Trino_, _Apojo_, _Portamentos_, _Mordente_, _Rastilho_, _Crescêndo_, ou _Esforçando_, _Piano_, ou _Dolce_, _Forte_, _Pianissimo_, e _Fortissimo_. O _Trino_, que se assigna com hum _tr._ por cima de huma figura, que muitas vezes he a penultima de huma cadencia, faz-se tocando-se com a maior velocidade dous pontos, que saõ: o expresso, e o que lhe fica superior. _Apojo_,[3] he huma figurinha, que se assigna antes da figura, que lhe precede, e vale ametade do valor da dita figura. _Portamentos_,[4] saõ humas figurinhas pequenas, que muitas vezes se assignaõ antes das figuras; estas ainda que sejaõ duas, tres, quatro, ou mais, participaõ unicamente d'ametade da figura para onde passaõ. _Mordente_, que naõ tem signal expresso, faz-se quando tremulando com o dedo se fere a _Nota_ expressa com a debaixo _tacita_, que sempre será em distancia de meio ponto. _Rastilho_, que tambem naõ tem signal expressivo, he quando se passa rastejando com o dedo por todos os semitons, de huma _Nota_ expressa para outra, que lhe fica em distancia de 3.ᵃ, 4.ᵃ, ou 5.ᵃ superior. _Crescendo_,[5] ou _Esforçando_, que em breve se costuma pôr _cresc.sf._, he para se estender, e esforçar o som do forte para o brando, ou pelo contrario, do brando para o forte. [1] Os nossos Antigos, chamavaõ a este signal _Caldeiraõ_; Francisco Ignacio Solano, chama-lhe _Nota Coroada_; e outros muitos, _Ponto de repouso_. De ordinario este signal, serve para que a parte principal faça aqui á sua vontade alguma passagem, a que os Italianos chamaõ _Cadenza_, em quanto todas as mais prolongaõ, e sustentaõ o som, que lhes he indicado, ou páraõ inteiramente. Mas se este signal está sobre a _Nota final_ de huma só parte, entaõ se chama _Ponto de Orgaõ_, e indica, que he necessario continuar o som desta _Nota_, até que as outras partes cheguem á sua conclusaõ natural. [2] Como os signaes demonstrativos, destes dous termos do idioma Italiano, _Al segno_, e _Sino al segno_, saõ na pintura iguaes, e muitas vezes alguns Copistas os pintaõ por differentes modos; com tudo, quem determina a sua regular repetiçaõ, saõ os mesmos termos, os quaes se assignaõ quasi sempre antes do signal expresso; e se entenderáõ do modo, que no texto deixo referido. [3] Esta figurinha, a que chamamos _Apojo_, o mais das vezes assigna-se no signo acima da figura expressa, que lhe precede; porém tambem se acha na debaixo, em distancia de meio ponto. [4] Alguns Compositores, para designarem o _Portamento_ de tres figuras, como vem a ser: a expressa; a debaixo em distancia de meio ponto; e a superior em distancia de hum, ou meio ponto; usaõ deste signal [~]; porém deve saber-se, que as que vierem com este signal [!] he para se darem soltas, e batidas, e sem algum _Portamento_. [5] Alguns Compositores, para designarem o crescer, e esforçar o som, quando he do brando para o forte, usaõ deste signal [<|], e do forte para o brando, deste [|>]; os quaes signaes vem muitas vezes sobre as figuras de maior valor, como _Semibreves_, _Minimas_, _etc._; e isto principalmente na Musica composta para instrumentos d'arco. _Piano_,[1] ou _Dolce_, que em breve se costuma pôr _p._, ou _dolc._, he para se tocar baixo, ou brandamente. _Forte_, que em breve se costuma pôr _f._., he para se tocar fortemente. _Pianissimo_, e _Fortissimo_, que em breve se costuma pôr _p.ᵐᵒ_, _f.ᵐᵒ_, ou _pp._, _ff._, saõ os superlativos de _piano_, e _forte_, e annunciaõ que se deve tocar o mais _brando_, ou o mais forte, que possa ser. §. XIX. _Do Tom._ Antes que se principie a tocar, deve-se conhecer o _Tom_; o qual he hum harmónico Compendio de sette differentes _Intervallos_, que se explicaõ tocando-se na _Guitarra_ as _cordas_, a que pertencem os _Signos_ _C_, _D_, _E_, _F_, _G_, _A_, _B_, _C_, a que chamaõ hum _Diapasaõ_.[2] §. XX. _Da Divisaõ do Tom._ O _Tom_ póde ser de dous modos, a saber: de 3.ᵃ _Maior_, e de 3.ᵃ _Menor_. O _Tom_ de 3.ᵃ _Maior_, he o que na distancia de huma _Terceira_ comprehende dous pontos, como por exemplo; tocando-se estes tres _Signos_ _C_, _D_, _E_: e o de 3.ᵃ _Menor_, he o que na mesma distancia comprehende ponto e meio, como por exemplo; tocando-se estes _A_, _B_, _C_. §. XXI. _Do Conhecimento dos Tons._ Como em cada hum dos _Signos_ póde ter principio hum _Tom_, para isto se saber com a possivel clareza, se observaráõ as seguintes _Regras_. REGRA I. Naõ vindo depois da _Clave_, eu pelo progresso da Musica algum _Sustenido_, ou b-_mol_ assignado pela sua ordem, será o _Tom_ de _C_ com 3.ᵃ _Maior_, ou de _A_ com 3.ᵃ _Menor_[3]. [1] Os Italianos em lugar de _piano_, usaõ muitas vezes deste termo _sotto voce_, que mostra que se deve tocar, e cantar a meia voz. _Mezzo forte_, e _Mezza voce_ significaõ o mesmo. [2] _Diapasaõ_, he hum termo da antiga Musica, com o qual exprimiaõ os Gregos o _Intervallo_, ou _Consonancia_ de huma _Oitava_. [3] Será o Tom de _C_ com 3.ᵃ _Maior_, quando observarmos, que a sua _Quinta_, que he _G_, naõ vem _alterada_: e será o Tom de _A_ com 3.ᵃ _Menor_, todas as vezes, que o dito _G_ vier _alterado_; e esta mesma reflexaõ se fará a respeito dos demais _Tons_, attendendo sempre ás suas _Quintas_. REGRA II. Sendo a Composiçaõ da _Musica_ do _Genero Chromatico_,[1] e vindo depois da _Clave_ 2♯♯, ou ha de ser _D_, 3.ᵃ _Maior_, ou _B_, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 5♭♭, ou ha de ser _D_♭, 3.ᵃ _Maior_, ou _B_♭, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 4♯♯, ou ha de ser _E_, 3.ᵃ _Maior_, ou _C_♯, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 3♭♭, ou ha de ser _E_♭, 3.ᵃ _Maior_, ou _C_, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 6♯♯, ou ha de ser _F_♯, 3.ᵃ _Maior_, ou _D_♯, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 1♭, ou ha de ser _F_, 3.ᵃ _Maior_, ou _D_, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 1♯, ou ha de ser _G_, 3.ᵃ _Maior_, ou _E_, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 6♭♭, ou ha de ser _G_♭, 3.ᵃ _Maior_, ou _E_♭, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 3♯♯, ou ha de ser _A_, 3.ᵃ _Maior_, ou _F_♯, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 4♭♭, ou ha de ser _A_♭, 3.ᵃ _Maior_, ou _F_, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 5♯♯, ou ha de ser _B_, 3.ᵃ _Maior_, ou _G_♯, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 2♭♭, ou ha de ser _B_♭, 3.ᵃ _Maior_, ou _G_, 3.ᵃ _Menor_. Vindo finalmente 7♯♯, ou ha de ser _C_♯, 3.ᵃ _Maior_, ou _A_♯, 3.ᵃ _Menor_. Vindo 7♭♭, ou ha de ser _C_♭, 3.ᵃ _Maior_, ou _A_♭, 3.ᵃ _Menor_. §. XXII. _Do Accompanhamento._ Como julguei ser tambem necessario, ao que tóca, e estuda a _Guitarra_, o saber accompanhar algumas _Modinhas_, _Minuetes_, e outras _Peças_ deste genero, só pelo _Basso Contínuo_[2]; he por esta razaõ, que escrevi mais os seguintes Paragrafos, para lhe servirem de huma breve instrucçaõ. _Accompanhamento_, he a execuçaõ de huma harmonía completa, e regular sobre hum Instrumento proprio a fazer esta harmonía, assim como o _Orgaõ_, o _Cravo_, a _Tiorha_, a _Cithara_, a _Guitarra_, _etc._ Porém como o _Basso Contínuo_, juntamente com os seus competentes _Acordes_[1], naõ se pódem dizer separados na _Guitarra_, e como nella vejo, que só se poderá dizer huma destas, que ordinariamente saõ os _Acordes_, que se applicaõ ás _Notas_ do _Basso Contínuo_; por esta razaõ he que sem demora de tempo, vou a tratar da applicaçaõ destes mesmos _Acordes_ sobre as _Notas_ do mesmo _Basso_; circunstancia esta a mais necessaria, para o que quizer bem accompanhar[2]. [1] _Genero Chromatico_, he hum _Genero_, ou _Composiçaõ de Musica_, que procede por muitos meios pontos consecutivos. A palavra _Chromatico_ deriva-se de hum vocabulo Grego, que significa _Côr_; e isto ou seja porque os Gregos indicavaõ este Genero com caracteres vermelhos, ou seja porque o _Genero Chromatico_ he medio entre outros dous, assim como a côr vermelha he media entre o branco, e preto. _Boecio_ attribue a _Timótheo de Mileto_, a invençaõ deste _Genero_, mas _Atheneo_ a dá a _Epigonces_. [2] _Basso Contínuo_, he huma das partes a mais grave, e que dura pelo espaço de toda a _Peça_. O seu principal uso, além de regular a harmonía, he de sustentar a voz, e de conservar o _Tom_. Dizem, que hum _Ludovico Vianna_, de quem nos resta hum Tratado, fôra o que no principio do derradeiro seculo a pôs primeiramente em uso. §. XXIII. _Do como se numeraõ os Intervallos, e Notas de cada Tom._ Cada _Tom_, subindo _Diathonicamente_[3], tem dentro de hum _Diapasaõ_ sette differentes _Intervallos_, a que chamaõ _Notas do Tom_. Estas nomêaõ-se desta sorte: _Primeira_[4], _Segunda_, _Terceira_, _Quarta_, _Quinta_, _Sexta_, _Septima_, e _Oitava_. Os _Acordes_, que se daõ sobre estas _Notas_, e que vem escritos humas vezes pela parte superior, e outras pela inferior do _Basso Contínuo_, e que as mais das vezes se imaginaõ, segundo as _Regras da Oitava_[5], sobre as _Notas_ do mesmo _Basso Contínuo_; numeraõ-se desta sorte: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9,[6] 10, 11, etc. Hum 2, significa huma _Segunda Nota_[7] acima da _Nota_ escrita; hum 3, huma _Terceira_; hum 4, huma _Quarta_, etc. §. XXIV. _Da differença das Especies_ Os _Numeros_, que nos relataõ os _Acordes_, a que os Praticos chamaõ _Especies_[8], dividem-se em _Maiores_, _Menores_, _Perfeitas_, _Superfluas_, _Diminutas_, e por isto _Falsas_. A _segunda_ póde ser _Maior_, _Menor_, e _Superflua_[9]; (sirva-nos de exemplo o _Tom Natural_ de _C_). He _Segunda Maior_ de _C_, _D Natural_; _Menor D_♭; e _Superflua D_♯. A _Terceira_ póde ser tambem _Maior_, _Menor_, _e Superflua_[10]. He _Terceira Maior_ de _C_, _E Natural_; _Menor E_♭; e _Superflua E_♯. A _Quarta_ póde ser _Perfeita_, _Superflua_, e _Diminuta_. A _Quarta Perfeita_ de _C_, he _F Natural_; _Superflua F_♯; e a _Diminuta F_♭. [1] _Acorde_, he a uniaõ de dous, ou muitos sons, exprimidos ao mesmo tempo, e que fórmaõ todos juntos hum todo harmónico. [2] _Accompanhar_, he ferir em hum instrumento, adequado com cada _Nota_ do _Basso_, os sons que deve ter. [3] Subir _Diathonicamente_, he subir por degráos conjunctos, e naõ separados, como por exemplo: tocando-se a _Escala da Guitarra_, demonstrada na segunda Parte, pelos Signos _C_, _D_, _E_, _F_, _G_, _A_, _B_, _C_. [4] A primeira _Nota_ do _Tom_, chama-se _Tonica_; a quinta _Dominante_; a quarta, que he a quinta inferior abaixo da _Tonica_, chama-se _Sub-Dominante_; a terceira chama-se _Mediante_; e a septima _Sensivel_. [5] A _Regra da Oitava_, he huma fórmula harmónica, publicada a primeira vez por _Delaire_ em 1700, a qual na _Marcha Diathonica_ do _Basso_, determina o _Acorde_ conveniente a cada gráo do _Tom_, tanto de 3.ᵃ maior, como menor; e tanto subindo, como descendo. [6] Estes dous _Numeros_ 10, e 11, já se naõ usaõ. O 9 he o _Duplo_ da _Segunda_; o 10 da _Terceira_; o 11 da _Quarta_; assim como o 8 da primeira. [7] O que he 2.ᵃ para cima, he 7.ᵃ para baixo; o que he 3.ᵃ para cima, he 6.ᵃ para baixo; o que he 4.ᵃ para cima, he 5.ᵃ para baixo; o que he 5.ᵃ para cima, he 4.ᵃ para baixo; o que he 6.ᵃ para cima, he 3.ᵃ para baixo; o que he finalmente 7.ᵃ para cima, he 2.ᵃ para baixo. [8] _Especies_, saõ os numeros, com que designamos os _Acordes_. [9] Toda a _Especie_, que for _Superflua_, ou _Diminuta_, he _Falsa_. [10] A _Terceira_ póde ser tambem _Diminuta_, mas he contando-se de _C_♯, para _E_♭. A _Quinta_ póde tambem ser _Perfeita_, _Superflua_, e _Diminuta_. A _Quinta[1] Perfeita_ de _C_ he _G Natural_, _Superflua_ _G_♯; e a _Diminuta_ _G_♭. A _Sexta_ póde ser _Maior_, _Menor_, e _Superflua_[2]. A _Sexta Maior_ de _C_ he _A Natural_; a _Menor_ he _A_♭; e a _Superflua_ _A_♯. A _Septima_ póde tambem ser _Maior_, _Menor_, e _Superflua_[3]. He _Septima Maior_ de _C_, _B Natural_; _Menor_ _B_♭; e _Superflua_ _B_♯. A _Oitava_ póde ser _Perfeita_, _Superflua_, e _Diminuta_. He _Oitava_ de _C Natural_, outro _C Igual Oitava_ acima; _Superflua_ _C_♯; e _Diminuta_ _C_♭[4]. Os exemplos, que ponho nestes _Tons_, pódem servir relativamente para todos os demais. §. XXV. _Das Especies, com que se accompanhaõ as Notas de cada Tom._ Como cada _Tom_ encerra dentro do seu _Diapasaõ_ sette _Notas_, como já se disse, he de saber, que _segundo a Regra da Oitava_: a _Primeira Nota do Tom_, seja de 3.ᵃ _Maior_, ou de 3.ᵃ _Menor_, accompanha-se com 3.ᵃ, 5.ᵃ, e 8.ᵃ; e se numera [8/5/3], ou [5/3], ou simplesmente 5.[5] A _Segunda_ accompanha-se com 3.ᵃ _Menor_, 4.ᵃ, 6.ᵃ Maior, e 8.ᵃ; e se numera [8/[6|]/3], ou [6/3], ou simplesmente 6.[6] A _Terceira_ accompanha-se com 3.ᵃ, 6.ᵃ, e 8.ᵃ, e se numera [8/6/3], ou [6/3], ou simplesmente 6. A _Quarta_ accompanha-se por tres modos: Quando vai para a 5.ᵃ, accompanha-se com 3.ᵃ, 6.ᵃ, e 8.ᵃ, e se numera [8/6/3], ou [6/3], ou simplesmente 6. Quando vem depois da 5.ᵃ, accompanha-se com 2.ᵃ, 4.ᵃ _Superflua_, 6.ᵃ, e 8.ᵃ; e se numera [8/6/4/2], ou [6/[4|]/2], ou [6/[4|]], ou simplesmente [4|]. Quando salta de outra qualquer _Nota_, accompanha-se com 3.ᵃ, 5.ᵃ, e 8.ᵃ; e se numera como a primeira _Nota_ do _Tom_. A _Quinta_ em todos os _Tons_, accompanha-se com 3.ᵃ _Maior_, 5.ᵃ, e 8.ᵃ; e se numera [8/5/3], ou [8/5/3♮], ou [5/3♮], ou simplesmente hum ♯[7]. A _Sexta_ accompanha-se por tres modos: Quando vai para a 7.ᵃ, accompanha-se com 3.ᵃ _Menor_, 6.ᵃ _Menor_, e 8.ᵃ; e se numera [8/6/3], ou [6/3], ou simplesmente 6. Quando vem para a 5.ᵃ, accompanha-se da mesma sorte; porém o mais das vezes com 6.ᵃ _Maior_, e se numera [8/[6|]/3], ou [8/6/3♯], ou simplesmente 6♯. [1] Duas _Quintas Perfeitas_ seguidas saõ prohibidas, assim como duas _Oitavas_. [2] A _Sexta_ póde tambem ser _Diminuta_, mas he contando-se de _C_♯ para _A_♭. [3] A _Septima_ póde tambem ser _Diminuta_, e he contando-se de _C_♯ para _B_♭. [4] A _Nona_, a _Decima_, e a _Undecima_, que saõ o _duplo_ da _Segunda_, _Terceira_, e _Quarta Nota_ do _Tom_; por estas se poderá vêr, o que pódem vir a ser. [5] Toda a _Nota_, que naõ tiver sobre si estes _Numeros_ [4/2] ou [6/4], levaõ sempre _Terceira_, ainda que naõ venha _expressa_. [6] Todo o _Numero_, que tiver hum _risco_ no fim da sua cauda, assim como hum [6|], hum [4|], hum [2|]; indica ter a _Especie Maior_, ou _Superflua_. [7] Hum ♯ posto sobre qualquer _Nota_, indica _Terceira Maior_; hum ♭, indica _Terceira Menor_; e hum ♮, indica _Terceira Maior_ na Composiçaõ dos b-_moes_; e _Menor_ na dos _Sustenidos_. Quando salta de outra qualquer _Nota_, accompanha-se algumas vezes com 3.ᵃ, 5.ᵃ, e 8.ᵃ, que se numera, como a primeira _Nota do Tom_.[1] A _Septima_ finalmente, accompanha-se com 3.ᵃ, 5.ᵃ _Diminuta_, e 6.ᵃ; e se numera [6/5/3], ou [6/5], ou simplesmente 6.[2] §. XXVI. _Da Reducçaõ dos Acordes antecedentes, nas posturas da Guitarra._ Como a numeraçaõ dos _Acordes_ que deixamos nos tres §§. antecedentes, pertencem mais ao _Basso Contínuo_, e saõ mais proprios para o _Cravo_, do que para a _Guitarra_; para fazermos huma _Reducçaõ_ destes na pratica das _posturas da Guitarra_, devemos saber, que a _postura_ que se der na _Tonica fundamental_[3], que he a 1.ᵃ _Nota_ do _Tom_, será a mesma, que competirá á 3.ᵃ, e 8.ᵃ; e á 5.ᵃ quando vier numerada com [6/4]. A _postura_, que se der na _Dominante_, que he a 5.ᵃ do _Tom_, será a mesma, que competirá á 2.ᵃ, e 7.ᵃ do mesmo _Tom_; e á 4.ᵃ quando vier depois da 5.ᵃ accompanhada com 2.ᵃ, e 4.ᵃ. A _postura_, que se der na _Sub-Dominante_, que he a 4.ᵃ do _Tom_, quando vier accompanhada com 3.ᵃ, e 5.ᵃ, será a mesma, que competirá á 6.ᵃ; isto se entende, naõ vindo estas com outras _Especies_; de forte, que a _Escála_ de hum _Diapasaõ_ reduz-se ás tres _posturas_, que acima deixo expressas; porque como a _Guitarra_ naõ póde dizer o _Basso Contínuo_, e dizendo-o naõ causa o preciso effeito; por este motivo, he que reduzí ás referidas _posturas_, as _Notas_ da _Escála_ do mesmo _Basso Contínuo_, que serviráõ de Norte, para o que quizer accompanhar neste Instrumento algumas _Modinhas_, _Minuetes_, _etc_. §. XXVII. _Da Analogia, e Transiçoens ordinarias dos Tons de 3.ᵃ Maior._ A _Transiçaõ_ dos _Tons_, consiste em se passar de hum para outro _Tom_, que lhe fica mais _Analogo_. Nos _Tons_ de 3.ᵃ _Maior_, he o seu _Tom_ mais _Analogo_, e para onde ordinariamente se costuma passar, o _Tom_ da sua 5.ᵃ _superior_ com 3.ᵃ _Maior_, e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que a 4.ᵃ do _Tom_ venha _alterada_[4]. Póde tambem passar-se para o _Tom_ da 4.ᵃ com 3.ᵃ _Maior_; e isto se conhecerá, quando no mesmo _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que venha a 7.ᵃ _Menor_[5]. [1] Sendo o _Tom_ de 3.ᵃ _Menor_, a 6.ᵃ ha de ser tambem _Menor_. [2] A 7.ᵃ, e 6.ᵃ nos _Tons_ de 3.ᵃ _Menor_ subindo, saõ ordinariamente _Maiores_, e _Menores_ descendo, e muitas vezes a 7.ᵃ nestes _Tons_ descendo, se accompanha com 2.ᵃ, 4ᵃ _Superflua_, e 6.ᵃ, que se numera com a 4ᵃ, quando vem depois da 5.ᵃ. [3] A _Tonica_, a _Dominante_, e a _Sub-Dominante_, chamaõ-se _Notas Fundamentaes_; porque na sua ressonancia se achaõ inclusas todas as outras. [4] Esta 4.ᵃ _alterada_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa. [5] Esta 7.ᵃ _Menor_, fica sendo 4.ᵃ do _Tom_ para onde se passa, accompanhada com [[4|]/2]. Póde tambem passar-se para o _Tom_ da 6.ᵃ com 3.ᵃ _Menor_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ se achar algum _Acorde_, em que venha a sua 5.ᵃ _alterada_[1]. Póde tambem passar-se para o mesmo _Tom_ com 3.ᵃ _Menor_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ vier numerada sobre a 1.ᵃ _Nota_ do _Tom_ a dita 3.ᵃ _Menor_; e entaõ será tambem a 6.ᵃ _Menor_. Tambem se póde passar para o _Tom_ da 2.ᵃ com 3.ᵃ _Menor_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que a 1.ᵃ _Nota_ do _Tom_ venha _alterada_[2]. Tambem se poderá passar para o _Tom_ da 3.ᵃ do _Tom_ com 3.ᵃ _Menor_ (o que raras vezes acontece), e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que a 2.ᵃ do _Tom_[3] venha _alterada_. Veja-se o seguinte _Esquema_, no qual, segundo esta ordem, se mostraõ todos os _Tons Analogos_, formados, e deduzidos de todos os sette _Signos_[4]. _ESQUEMA._ +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | Origem | Tons das |Tons das|Tons das| O mesmo|Tons das|Tons das| |dos Tons| suas 5.ᵃˢ | 4.ᵃˢ | 6.ᵃˢ | Tom | 2.ᵃˢ | 3.ᵃˢ | | de 3.ᵃ | com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ | | Maior. | Maior. | Maior. | Menor. | Menor. | Menor. | Menor. | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | C | G | F | A | C | D | E | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | D | A | G | B | D | E | F♯ | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | E | B | A | C♯ | E | F♯ | G♯ | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | F | C | B♭ | D | F | G | A | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | G | D | C | E | G | A | B | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | A | E | D | F♯ | A | B | C♯ | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ | B | F♯ | E | G♯ | B | C♯ | D♯ | +--------+------------+--------+--------+--------+--------+--------+ [1] Esta 5.ᵃ _alterada_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa. [2] Esta 1.ᵃ _Nota alterada_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa. [3] Esta 2.ᵃ _Nota alterada_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa. [4] Além destas _Transiçoens_, póde haver outras, que por arbitrio introduzíraõ os Compositores nas suas _Obras_; porém como saõ raras, e porque naõ deixa de ser erro, o separarmo-nos muito do _Tom principal_; por esta razaõ, he que julgando eu serem estas _Transiçoens_ as mais _naturaes_, e necessarias, as escrevi. §. XXVIII. _Da Analogia, e Transiçoens ordinarias dos Tons de 3.ᵃ Menor._ Nos _Tons_ de 3.ᵃ _Menor_ he o seu _Tom_ mais _Analogo_, e para onde ordinariamente se costuma passar, o _Tom_ da sua 3.ᵃ _superior_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer a mesma 3.ᵃ accompanhada com 3.ᵃ, e 5.ᵃ[1] Tambem se póde passar para o _Tom_ da 4.ᵃ com 3.ᵃ _Menor_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que venha a 3.ᵃ do _Tom Maior_, e a 1.ᵃ _Nota_ com 7.ᵃ[2] Tambem se póde passar para o _Tom_ da 5.ᵃ com 3.ᵃ _Menor_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que a 4ᵃ venha _alterada_[3]. Tambem se póde passar para o _Tom_ da 6.ᵃ com 3.ᵃ _Maior_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que venha a 2.ᵃ _Menor_[4] com a 3.ᵃ, e 5.ᵃ do mesmo _Tom_. Tambem se póde passar para o _Tom_ da 7.ᵃ com 3.ᵃ _Maior_; e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que venha com a sua 3.ᵃ _Menor_[5], a 6.ᵃ _Maior_. Tambem se póde passar para o _Tom_ de 2.ᵃ _Menor_ com 3.ᵃ _Maior_ (o que raras vezes acontece); e isto se conhecerá, quando no _Basso Contínuo_ apparecer algum _Acorde_, em que venha a 5.ᵃ _Diminuta_[6] com 6.ᵃ juntamente. Nestes _Tons_ tambem pódem haver algumas outras _Transiçoens_ extravagantes, que os Compositores tem por livre arbitrio introduzido; e que na verdade naõ deixaõ de ser algumas vezes gratas, por virem intempestivamente, e fugirem do trilho commum, e das _Regras_, que acima exponho: porém para isto se fazer com arte, que rodeios naõ saõ necessarios, tanto no _Accompanhamento_, como nas _Partes concertantes_? Que gosto naõ he preciso, para ao depois suavizar o ouvido na tornada ao _Tom_ primario? Digaõ-no os grandes Mestres, que elles confessaráõ comigo, que se algumas vezes chegaõ a separar-se das _Regras_ estabelecidas, he unicamente por se quererem fazer célebres, e merecerem algum reparo do Público; e naõ por ser preceito, que mande fazer huma tal separaçaõ; fugindo deste modo dos naturaes enlaxamentos, que a _Analogia_, e _Transiçaõ_ dos _Tons_ conserva entre si, e que saõ o matiz mais vivo, que orna a _Musica_, e que serve de recreio para os seus apaixonados. As ordinarias _Transiçoens_, que antecedentemente exponho, pódem vêr-se, segundo a sua ordem, no seguinte [1] Esta 3.ᵃ _Nota_, fica sendo a 1.ᵃ do _Tom_. [2] A 3.ᵃ _Maior_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa; e a 7.ᵃ _Menor_, fica sendo 4.ᵃ accompanhada com [[4|]/2]. [3] Esta 4.ᵃ _alterada_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa; porém quando a mesma 4.ᵃ _alterada_ vem com 5.ᵃ, e 7.ᵃ _Diminutas_, ordinariamente naõ se passa para o _Tom_ da 5.ᵃ, mas sim fica-se no mesmo _Tom_. [4] Esta 2.ᵃ _Menor_, fica sendo 4.ᵃ do _Tom_ para onde se passa, accompanhada com [[4|]/2]; a 3.ᵃ fica sendo 5.ᵃ accompanhada com 7.ᵃ; e a 5.ᵃ fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do _Tom_ para onde se passa. [5] Esta 3.ᵃ _Menor_, fica sendo 4.ᵃ do _Tom_ para onde se passa, accompanhada com [[4|]/2]; e a 6.ᵃ _Maior_, fica sendo 7.ᵃ _Maior_ do mesmo _Tom_. [6] A 5.ᵃ _Diminuta_, vem a ser 4.ᵃ do _Tom_ para onde se passa, accompanhada com 2.ᵃ, e 4.ᵃ; e a 6.ᵃ fica sendo 5.ᵃ. _ESQUEMA._ +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ |Origem dos|Tons das|Tons das|Tons das|Tons das|Tons das| Tons da | | Tons | 3.ᵃˢ | 4.ᵃˢ | 5.ᵃˢ | 6.ᵃˢ | 7.ᵃˢ | 2.ᵃ Men. | | de 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ |com 3.ᵃ | com 3.ᵃ | | Menor. | Maior. | Menor. | Menor. | Maior. | Maior. | Maior. | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | C | E♭ | F | G | A♭ | B♭ | D♭ | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | D | F | G | A | B♭ | C | E♭ | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | E | G | A | B | C | D | F | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | F | A♭ | B♭ | C | D♭ | E♭ | G♭ | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | G | B♭ | C | D | E♭ | F | A♭ | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | A | C | D | E | F | G | B♭ | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ | B | D | E | F♯ | G | A | C | +----------+--------+--------+--------+--------+--------+----------+ Todas estas _Regras_, e o mais que nesta Primeira Parte deixo referido, he o que essencialmente pertence ao Mechanismo da _Musica_: vamos agora vêr, e especular o que pertence ao da _Guitarra_, na Segunda Parte, que se segue. _Fim da Primeira Parte._ ESTUDO DE GUITARRA. PARTE II. DAS REGRAS MAIS PRINCIPAES PERTENCENTES A' GUITARRA. §. I. _Da Invençaõ, e Serventia da Guitarra._ A _Guitarra_, que segundo dizem, teve a sua origem na _Gram-Bretanha_, he hum instrumento, que pela sua harmonía, e suavidade tem sido aceito por muitos Póvos, que achando-a capâz de supprir por alguns instrumentos de maior vulto, como o _Cravo_, e outros; e assás sufficiente para entretenimento de huma Assembléa, evitando o incommodo, que poderia causar o convite de huma _Orquesta_, a adoptáraõ uniformemente, esmerando-se em a tocarem com toda a destreza: e vendo eu que a Naçaõ Portugueza a tinha tambem adoptado, e se empenhava em tocalla com a maior perfeiçaõ, desejando concorrer para a instrucçaõ dos meus Nacionaes, com esse pouco cabedal que possuo, por naõ haver _Tractado_ algum que falle desta materia, compûs o presente _Opusculo_, e nelle ajuntei as _Regras_, que me pareceraõ mais proprias, e necessarias para se aprender a tocar com perfeiçaõ o dito instrumento, nas quaes mostro naõ só a sua _Escala_[1], a divisaõ dos meios pontos, e outras difficuldades; como tambem lhe ajuntei alguns _Minuetes_, _Contradanças_, _Marchas_, e _Alegros_, para desembaraçar o Principiante, tudo pelo _Tom natural_ de _C_, proprio da _Escala_ do mencionado instrumento; e logo depois seis _Sonatas_[2], com accompanhamento de hum _Violino_, e duas _Trompas ad libitum_, que por enserrarem algumas difficuldades nos _Transportes_, poderáõ servir de completa instrucçaõ para qualquer Curioso, que intente perfeitamente tocallo. [1] _Escala_ he o nome que se dá á successaõ _Diatonica_ de sette differentes sons, como v. g. notados nas casas dos _Signos_ _C_, _D_, _E_, _F_, _G_, _A_, _B_; e isto porque estas _Notas_ nos _Pautados_ das nossas _Musicas_, se achaõ dispostos á maneira de _Escaloens_. [2] As referidas _Sonatas_ correm impressas, separadas desta Obra; e foraõ dedicadas a S. A. R., a SENHORA D. CARLOTA JOAQUINA, _Princeza do Brazil_. §. II. _De como deve ser construida a Guitarra, e das qualidades que nella se requerem para ser bem affinada._ Para que a _Guitarra_ seja boa, requerem-se tres cousas, a saber: boa madeira na sua construcçaõ; proporçaõ nas suas partes, principalmente nas doze _Divisoens_ d'arame, que ordinariamente atravessaõ o _ponto_[1]; e finalmente, que o _cavallête_ esteja, em relaçaõ ao mesmo _ponto_, no seu competente lugar. A madeira da sua construcçaõ deve ser de _Platano_ muito secca, isto se entende, naõ o _tampo_, porque este deve ser de _Veneza_, por ser madeira mais leve; e sendo ella de vêa fina, e rija, muito melhor, porque o som das _Cordas_ reflecte mais, e faz hum excellente effeito, estando o _bojo_, ou _cabaço_[2] bem colligado, e de tal sorte unido, que nelle naõ haja boraco, ou frincha por onde lhe entre o ar: de mais, para a _Affinaçaõ_ ser regular, e completa, deve procurar-se que da duodecima _Divisaõ_ do _ponto_ para a parte do _cavallête_, haja a mesma distancia de _Corda_, que ha da _pestana_[3] para a mesma _Divisaõ_; porque, segundo a _Physica_, e _Mathematica Divisaõ_ de huma _Corda_, estando esta preza de ambos os extremos, e pondo-se-lhe bem no meio hum _cavallête_, de sorte que fique tanta _Corda_ para huma, como para outra parte, dará em cada huma destas partes huma _Oitava_; dividindo-a da mesma sorte em tres partes iguaes, dará huma 5.ᵃ, _Oitava_ acima da 5.ᵃ do som da _Corda solta_; dividindo-a em quatro, dará huma 4.ᵃ; e em cinco, dará huma terceira[4]; porque he huma verdade demonstrada, e geralmente admettida, que quanto mais pequena fôr huma _Corda_, mais _vibraçoens_ ella ha de fazer em hum mesmo tempo, por exemplo: em huma hora, em hum minuto, em hum segundo,[5] etc.; e por tanto o som será mais agudo: e porque a maior parte dos Artifices, principalmente do meu Paiz, ignoraõ estes preceitos _Physicos_, e _Mathematicos_; he por esta razaõ, que as _Guitarras_ lhe sahem taõ irregulares, e taõ desaffinadas nos distinctos sons das mencionadas _Divisoens_, que atravessaõ o _ponto_; circunstancia que se deve bem averiguar, pois que he o mais essencial, e necessario neste Instrumento: e porque para fazer a _Musica_ o seu devido effeito, he preciso que o Instrumento seja, além de bem fabricado, bem affinado: attendendo-se bem ao que neste §. exponho, poderá qualquer sugeito comprar alguma _Guitarra_, que se lhe offereça, que estou certo naõ errará, mas antes tirará della o perciso effeito, qual he o deleitar-se com a suave harmonia dos seus regulares sons[6]. [1] O _Ponto_ he huma regra de páo preto, _Mogne_, ou de outra qualquer qualidade, que cobre a superficie de todo o braço da _Guitarra_. [2] O _Bojo_, ou _Cabaço_ da _Guitarra_, costuma ser redondo para a parte do _cavallête_, e estreito para a parte do _ponto_, como se póde vêr na Estampa, que vai depois do §. XI.; porém muitos diversificaõ no seu feitio. [3] _Pestana_, he o frizo levantado na parte das _cravelhas_, em que pousaõ as _Cordas_: este, o mais das vezes, he de marfim, ou d'osso. [4] A _Regra_ destas _Divisoens harmonicas_, he ao que os Antigos, pelo invento do seu _Manicordio_, chamavaõ _Canon harmonicus_. [5] _Mr. Taylor_, célebre Geometra Ingles, foi o primeiro que demonstrou as leis das _Vibraçoens_ das _Cordas_ na sua estimavel Obra, intitulada: _Methodus incrementorum directa, & inversa_, 1715; e estas mesmas leis foraõ tambem demonstradas por _Mr. Joaõ Bernouilli_, no segundo Tomo das _Memorias da Academia Imperial de Petersbourg_. [6] Das _Guitarras_ que vem de Inglaterra, he o melhor Auctor _Mr. Simpson_; e nesta Cidade do Porto, he _Luis Cardoso Soares Sevilhano_, que hoje em pouco desmerece ao referido _Simpson_. §. III. _Da Perfeiçaõ da Guitarra._ A _Guitarra_ naõ se póde considerar, nem pôr no numero dos instrumentos imperfeitos; porque se me disserem que o he, bem facilmente lhe poderei provar, que naõ ha algum perfeito; porque v. g. a _Rabeca_ do _Bordaõ_ para baixo, já soffre sua imperfeiçaõ, pois naõ tem os _pontos_ que tem o _Rabecaõ_, nem o _Rabecaõ_ os _pontos_ da _Rabeca_: se me disserem, que nem tudo se póde tocar na _Guitarra_, tambem direi, que nem tudo se póde tocar na _Rabeca_, senaõ só as _Peças_ positivamente feitas, segundo a ordem da sua _Escála_; e em vantagem da _Guitarra_, digo, que quem souber bem as _Regras do Accompanhamento_, e dos _Transportes_ da mesma _Guitarra_, facilmente poderá accompanhar qualquer _Peça_ de _Musica_, naõ tendo o _Basso_ passos de obrigaçaõ, nem muitas _Notas cambiadas_, e isto muito principalmente em _Modinhas_ a _duo_, ou a _solo_, o que naõ se poderá facilmente fazer na _Rabeca_, ou outro qualquer instrumento d'arco. §. IV. _Advertencia ao Curioso._ Depois que o Curioso tiver aprendido a _Arte de Musica_, e estiver bem instruido no Mechanismo della, muito principalmente no conhecimento da _Clave_ de _G_, nos _Signos_ que competem pela dita _Clave_ ás _Linhas_, e _Espaços_; nos _Tempos_, e nas _Figuras_, que em cada hum delles entraõ no _Compaço_, e ultimamente em todos os demais caracteres, de que a _Musica_ se orna; advertirá com toda a individuaçaõ nas _Regras_, que vou expôr, as quaes por breves, e resumidas, já mais deixaráõ de lhe dar huma noçaõ clara, e distincta do que pertence á especulaçaõ deste Instrumento. §. V. _Das Cordas._ A _Guitarra_ consta de seis _Cordas_, que saõ: _Primas_, _Segundas_, _Terceiras_, _Quartas_, _Quinta_, e _Sexta_. Destas, quatro saõ _dobradas_, e duas, _singélas_. As _dobradas_ saõ as quatro primeiras, que vem a ser: as _Primas_, _Segundas_, _Terceiras_, e _Quartas_; e as _singélas_ saõ as duas ultimas, que saõ: a _Quinta_, e a _Sexta_[1]. §. VI. _Do Numero das Cordas._ As _Primas_[2], devem ser de Carrinho n.ᵒ 8.ᵒ, e naõ n.ᵒ 7.ᵒ, como muitos querem, sem attenderem á proporçaõ da _Corda_. As _Segundas_, devem ser de Carrinho n.ᵒ 6.ᵒ As _Terceiras_, devem ser de Carrinho n.ᵒ 4.ᵒ[1]. As _Quartas_, seraõ dous _Bordoens cobertos_, chamados vulgarmente _Bordoens de G-sol-re-ut_. A _Quinta_, será hum _Bordaõ_ de _E-la-mi_; e a _Sexta_, outro de _C-sol-fa-ut_. [1] Chamaõ-se _dobradas_ as quatro primeiras, por competir a cada huma dellas duas _Cordas_ de igual numero; e chamaõ-se as duas ultimas _singélas_, por competir a cada huma hum só _Bordaõ_. [2] O Carrinho das _Primas_, e _Segundas_ devem ser de arame branco; e o das _Quartas_ amarelo. §. VII. _Do modo como se devem pôr as Cordas._ Eleito o competente Carrinho, se tirará delle a _Corda_ necessaria, de sorte que fique pouco mais acima do comprimento da _Guitarra_, porém que venha sem defeito, ou signal algum de quebradura; e depois se dobrará quasi junto ás pontas, fazendo-lhe hum pequeno circulo em cada huma dellas para se prender, tanto no botaõ do pé, como no ferrinho, ou lingueta da sua competente tarracha[2]; e logo que estiver feito o dito circulo, se cingirá a _Corda_ com os bocados dos seus extremos, de sorte, que fiquem muito colligados, e unidos, para assim naõ darem de si, nem tambem desandarem; e depois disto feito, se meterá nos seus competentes lugares,[3] e entaõ se affinará do modo, que relato no §. XII. §. VIII. _Do Modo como se devem ferir as Cordas._ As _Cordas_ da _Guitarra_, a que chamaõ _Corpo sonoro_[4], para causarem o seu preciso effeito, devem-se ferir com a polpa dos dedos, e tambem com as pontas das unhas: isto se entende, naõ se tocando _piano_, que a tocar-se, será unicamente com a polpa dos dedos, e nunca com as unhas, por fazer mais grato, e brando o som que das mesmas exigimos. [1] Estas _Cordas_ devem-se escolher limpas, e que naõ tragaõ ferruge; porque sendo assim estalaõ com facilidade: as de marca de _Viado_ saõ as melhores, e tambem ha outras de huma nova fabrica, que trazem a marca junta ao numero, algum tanto confusa, á similhança de huma folha de vide, que tambem naõ provaõ mal. [2] Se a _Guitarra_ for de cravelhas, naõ se fará o dito circulo, senaõ no pé, e a ponta da parte superior, se meterá no boraco da competente cravelha; e dando depois na _Corda_ huma pequena volta, se andará logo com a mesma _cravelha_, de sorte que fique a _Corda_ preza, com a dobra para a parte de fóra; e logo que isto esteja feito, se levará até o ponto necessario da sua affinaçaõ. [3] Quando se puzer alguma _Corda_ nova, logo que esta chegue ao som, ou ponto necessario, corra-se humas poucas de vezes com o segundo dedo da maõ esquerda (que he o maior) por todos os meios pontos, que vaõ da parte das cravelhas para o cavallete, e tambem pelo contrario, que ella estenderá, e ficará firme no som que se requer; e no acto da _affinaçaõ_, a cara deve estar algum tanto separada, para que, se a _Corda_ quebrar, lhe naõ succeda algum desastre, principalmente nos olhos, como já tem acontecido. [4] Cada huma das _Cordas_, tanto da _Guitarra_, como de outro qualquer instrumento, he hum _Corpo Sonoro_; porque só cada huma dellas he a que póde dar immediatamente o som. A caixa, ou cabaço, que naõ faz mais do que repercutir, e reflectir o som, naõ he _Corpo Sonoro_, nem faz parte delle. §. IX. _Do Som solto._ Como a vibraçaõ de cada huma _Corda_ da _Guitarra_, dura em quanto ella treme, quando se quizer supitar o seu competente som, se porá immediatamente o dedo, que a serio, em cima, que desta sorte se dará o _Som solto_[1], e cessará por tanto a vibraçaõ[2]. [1] Deve-se tocar _solto_, todas as vezes, que sobre as _Figuras_ da _Musica_ vier este signal [!]; e tambem quando as mesmas _Figuras_ tiverem atraz, e adiante de si alguma _Pausa_. [2] Quando o _Corpo sonoro_ sáhe do seu estado de _repouso_, chama-se _Vibraçaõ_, a cada hum dos seus aballos, leves, mas sensiveis, frequentes, e successivos: e estas _Vibraçoens_ communicadas ao ár, levaõ ao ouvido, por este vehicolo, a sensaçaõ do som, e este som he _grave_, ou _agudo_, segundo as _Vibraçoens_ saõ mais, ou menos frequentes no mesmo tempo. §. X. _Dos Signos, que competem a cada huma das Cordas._ Os _Signos_, que competem ás ditas _Cordas_, começando da parte dos _Bordoens_; saõ da maneira seguinte. O _Signo C_, que se assigna no primeiro _C_ abaixo da _Clave_, he o _Signo_ que pertence á _6.ᵃ Corda_, que he o _Bordaõ_ mais grosso. O _Signo E_, que se assigna no primeiro _E_ abaixo da _Clave_, he o _Signo_ que pertence á _5.ᵃ Corda_, que he o outro _Bordaõ_ acima. O _Signo G_, que se assigna na segunda _Linha_, que he a posiçaõ certa da _Clave_, he o _Signo_ que pertence ás _4.ᵃˢ Cordas_, que saõ os dous _Bordoens_ acima. O _Signo C_, que se assigna no primeiro _C_ acima da _Clave_, he o _Signo_ que pertence ás _3.ᵃˢ Cordas_, que saõ as duas _Cordas_ n.ᵒ 4.ᵒ O _Signo E._, que se assigna no primeiro _E_ acima da _Clave_, he o _Signo_ que pertence ás _2.ᵃˢ_, que saõ as duas _Cordas_ n.ᵒ 6.ᵒ O _Signo G._, que se assigna no primeiro _G_ acima da _Clave_, he o _Signo_ que pertence ás _1.ᵃˢ_, que saõ as duas _Cordas_ n.ᵒ 8.ᵒ, como tudo se póde vér no seguinte _EXEMPLO._ [Música: _Cordas soltas._ _6.ᵃ Corda._ _5.ᵃ Corda._ _4.ᵃˢ Cordas._ _3.ᵃˢ Cordas._ _2.ᵃˢ Cordas._ _1.ᵃˢ Cordas._] §. XI. _Das doze Divisoens d'arame, a que chamaõ_ Trastes_, as quaes dividem todos os meios pontos, que se achaõ no braço da Guitarra; e da Numeraçaõ de todos os Signos, assim naturaes, como accidentáes, que competem a cada huma das Cordas deste Instrumento._ Quem divide todos os meios pontos, que vaõ do _C._ da _6.ᵃ Corda_, ou _Bordaõ_; até o _G. Oitava_ acima do _G._ das _Primas_, saõ os _Trastes_, que saõ as doze _Divisoens_ d'arame, que atravessaõ o braço da _Guitarra_; e por tanto, carregando-se com firmeza com a polpa de hum competente dedo, no meio[1] de cada huma das mesmas _Divisoens_, se attenderá, a que do meio de huma para o de outra immediata, ha sempre o augmento de meio ponto; isto se entende, vindo da parte das cravelhas para o cavallete; e pelo contrario haverá diminuiçaõ de meio ponto, vindo da parte do cavallête para as cravelhas; e porque cada huma _Corda_, dentro do ambito das referidas _Divisoens_, naõ encerra mais que a distancia de huma _Oitava_, a qual se fórma apreciavelmente com as mesmas _Divisoens_, que commummente naõ passaõ de doze; por tanto deve-se saber, que como a _Corda solta_ he _C natural_, como já se disse, o qual se assigna na primeira _Linha accidental_, que fica abaixo da primeira _natural_; carregando-se bem no meio da primeira _Divisaõ_ d'arame será _C_♯, ou _D_♭: carregando-se acima[2], será _D natural_; mais acima, _D_♯, ou _E_♭; mais acima, _E natural_, ou _F_♭; mais acima, _E_♯, ou _F natural_; mais acima, _F_♯, ou _G_♭; mais acima _G natural_; mais acima, _G_♯, ou _A_♭; mais acima _A natural_; mais acima _A_♯, ou _B_♭; mais acima, _B natural_, ou _C_♭; mais acima, _B_♯, ou _C natural_. Como a _5.ᵃ Corda solta_ he _E natural_, o qual se assigna na primeira _Linha_; carregando-se com firmeza no meio da primeira _Divisaõ_ d'arame, será _E_♯, ou _F natural_; carregando-se acima, será _F_♯, ou _G_♭; mais acima, _G natural_; mais acima _G_♯, ou _A_♭; mais acima, _A natural_; mais acima _A_♯, ou _B_♭; mais acima, _B natural_, ou _C_♭; mais acima, _B_♯, ou _C natural_; mais acima, _C_♯, ou _D_♭; mais acima, _D natural_; mais acima, _D_♯, ou _E_♭; mais acima, _E natural_, ou _F_♭. Como a _4.ᵃ Corda solta_ he _G natural_, o qual se assigna na segunda _Linha_; carregando-se com firmeza no meio da primeira _Divisaõ_ d'arame, será _G_♯, ou _A_♭; carregando-se acima, será _A natural_; mais acima, será _A_♯, ou _B_♭; mais acima, será _B natural_, ou _C_♭; mais acima, _B_♯, ou _C natural_; mais acima, _C_♯, ou _D_♭; mais acima, _D natural_; mais acima, _D_♯, ou _E_♭; mais acima, _E natural_, ou _F_♭; mais acima, _E_♯, ou _F natural_; mais acima, _F_♯, ou _G_♭; mais acima finalmente, será _G natural_; e porque as outras tres _Cordas_ saõ affinadas em _Oitavas_ destas que deixo designadas; por tanto, a mesma _Divisaõ_, e _Signos_ que competem á _6.ᵃ Corda_, seráõ os mesmos que competiráõ á _3.ᵃ_; os da _5.ᵃ_, os mesmos que competiráõ á _2.ᵃ_; e os da _4.ᵃ_, os mesmos que competiráõ ás _Primas_; com a differença, de que os consideraremos _Oitava_ acima: e para mais facilitar aos Principiantes neste conhecimento, tracei a seguinte _Estampa_, na qual poderáõ vêr com toda a individuaçaõ, quanto neste §. deixo referido, a saber: naõ só os _Signos_ que saõ _Sustenidos_, vindo da parte das _cravelhas_ para a do _cavallête_, como pelo contrario os _Signos_ b-_molados_, vindo da parte do _cavallête_ para as _cravelhas_; circunstancia esta, que he muito necessaria, naõ só para o perfeito conhecimento dos _Transportes_, como juntamente para bem decifrar tudo o que pertence ao Mechanismo deste Instrumento. [Ilustração: Advirta-se que todos os signos que levaõ este signal ♮, saõ naturaes.] [1] No _meio_, entende-se, naõ no meio do arame, mas sim no centro, ou claro, que fica entre as _Divisoens_, como se mostra no ponto, que vai no meio dos dous riscos seguintes. [=.=] [2] _Acima_, deve entender-se, vindo da parte das cravelhas para a parte do cavallete, e naõ pelo contrario, como muitos erradamente o entendem, porque assim como o som vai subindo, da mesma sorte os dedos. §. XII. _Da Affinaçaõ._ Retezado naturalmente o _Bordaõ_ de _C._, e considerado na sua propria consistencia, isto he, que nem esteja demaziadamente retezado, nem lasso, para se affinar a 5.ᵃ _Corda_, ou _Bordaõ_, que he _E._, procure-se este _Signo_ na 6.ᵃ _Corda_, no meio da 3.ᵃ, e 4.ᵃ _Divisaõ_, e ferindo-se com a maõ direita esta 6.ᵃ _Corda_, logo que sentirmos o seu som, uniremos o som da 5.ᵃ com o que der a referida 6.ᵃ, e logo que estiver affinada, se pasará a 4.ᵃ. Para se affinar a 4.ᵃ _Corda_, que he _G_, procure-se este _Signo_ na 5.ᵃ _Corda_, no meio da 2.ᵃ, e 3.ᵃ _Divisaõ_, e ferindo-se com a maõ direita esta 5.ᵃ _Corda_, logo que sentirmos o seu som, uniremos o som da 4.ᵃ com o que der a referida 5.ᵃ, e se passará á 3.ᵃ, 2.ᵃ e 1.ᵃ, que se affinaráõ, ou procurando os _Signos_, que lhes competem nas _Cordas_ antecedentes, ou affinando-as em _Oitavas_ das tres primeiras, o que tudo vem a ser o mesmo, e facilmente se poderá colligir pela experiencia, e pelos seguintes[1] [1] Este modo do affinar, he o mais seguro, estando as doze _Divisoens_ de _ponto_ proporcionadamente distribuidas; porém quando houver algum instrumento já affinado, como v. g. o _Cravo_, por onde a _Guitarra_ se ajuste; entaõ se pedirá ao que tocar o dito _Cravo_, que dê o competente _Signo_ de _C_, e logo se unirá o som da 6.ᵃ _Corda_, ou _Bordaõ_ ao que der o mesmo _C_; e as demais _Cordas_ se affinaráõ segundo a norma, que no _Texto_ relato. _EXEMPLOS._ [Ilustração] §. XIII. _Da Posiçaõ, e Numeros dos dedos._ Posta a _Guitarra_, naõ muito junta ao peito, com o _braço_ para a parte esquerda, algum tanto levantado para o ar, e o _bojo,_ ou _cabaço_, que fica na parte direita, mais baixo, quero dizer, sustida desta sorte a Guitarra no pulso da maõ direita, e no meio da chave da maõ esquerda, se observará, que os dedos que lhe competem, se numeraõ, e haõ de entender deste modo: como o dedo _polex_, chamado vulgarmente _polegar_, naõ faz figura na maõ esquerda, por estar fóra da posiçaõ de ferir as _Cordas_, por isso se deve entender, que o primeiro dedo da maõ esquerda, he o que fica logo acima do _polegar_, chamado _index_; e pela sua ordem os outros, sendo o _minimo_, chamado vulgarmente _mendinho_, o 4.ᵒ, ou ultimo. Na maõ direita porém, os dedos que competem, e devem ferir as _Cordas_, saõ os tres primeiros, que vem a ser o _polegar_, o 2.ᵒ, e 3.ᵒ; e os demais só em casos extraordinarios se usará delles. §. XIV. _Da Pestana postiça, que se atarracha nos boracos da Guitarra, para augmentar o Tom._ Quando se quizer tocar algum _Minuete_, _Marcha_, ou outra qualquer _Peça_, por algum _Tom_ mais alto, que o _Tom natural_ de _C_, por evitar o fazer _Pestana_ com o dedo _index_, póde usar-se da _Pestana postiça_, a qual he huma _travessa_ pequena de marfim, ou d'osso, correspondente á largura do _braço_ da _Guitarra_, que por baixo traz hum bocado de camurça, ou pelica collada, com que cobre o seu extremo inferior, que assenta sobre as _Cordas_, e que tem hum boraco no meio, pelo qual se mete hum perafuso, que atravessando naõ só a referida _Pestana_, como tambem o _braço_ da _Guitarra_, que para isto mesmo tem pelo braço acima quatro boracos; em cada hum destes, atarrachada que seja a dita _Pestana_, se poderá formar o _Tom_ que se pertender, os quaes saõ do modo, que relato no §. seguinte[1]. §. XV. _Dos Tons accidentaes, que se fórmaõ com a Pestana postiça._ Como os boracos, que as _Guitarras_ ordinariamente trazem, naõ passaõ de quatro posta a travessa, que serve de _Pestana_, bem atarrachada no primeiro boraco, formará o _Tom_ de _D_, com 3.ᵃ _Maior_: no segundo, formará o _Tom_ de _D♯♯_, (que raras vezes se encontra) com 3.ᵃ _Maior_; ou o _Tom E_♭, chamado vulgarmente d'_E-la-fa_, com 3.ᵃ _Maior_: no terceiro, formará o _Tom_ de _E_, chamado vulgarmente d'_E-la-mi_, com 3.ᵃ _Maior_: e finalmente no quarto, formará o _Tom_ de _F_, com 3.ᵃ _Maior_[2]. [1] Quando se tirar a _Pestana postiça_, attenda-se muito á _Guitarra_; porque como a referida _Pestana_ puxa muito pelas _Cordas_, e estas ordinariamente se desaffinaõ, he por esta razaõ, que de novo se deve tornar a affinar. [2] Querendo-se, além destes, formar mais _Tons_ sem a _Pestana postiça_, só com o dedo _index_ atravessado no meio da 2.ᵃ, e 3.ᵃ _Divisaõ_, acima do sitio em que se formou o _Tom_ de _F_, que he, segundo a ordem das _Divisoens_ de todo o _braço_ da _Guitarra_, no meio da 6.ᵃ, ou 7.ᵃ _Divisaõ_, formará o _Tom_ de _G_, com 3.ᵃ _Maior_: mais acima em outra tanta distancia, que he, segundo a mesma ordem da _Guitarra_, no meio da 8.ᵃ, e 9.ᵃ _Divisaõ_, formará o _Tom_ de _A_, com 3.ᵃ _Maior_: e finalmente no meio de duas _Divisoens_, sejaõ ellas quaes forem, póde-se formar hum _Tom_ de 3.ᵃ _Maior_, relativo sempre ao _Signo_, em que a _Peça_ de _Musica_ tem a sua origem. §. XVI. _Da Ordem dos dedos, que devem carregar as Cordas, e Notas dos Tons accidentaes, estando o index servindo de Pestana._ Como os dedos da maõ esquerda saõ, e se devem considerar, como _cavallêtes_ moveis, por meio dos quaes sentimos os differentes sons de qualquer _Peça_, deve-se por tanto saber, que os dedos que competem ás differentes _Notas_ de cada _Tom_, na distancia de hum _Diapasaõ_, segundo a ordem da sua _Escála Diatonica_, estando o dedo _index_ servindo de _Pestana_, se entenderáõ do modo seguinte. A 1.ᵃ _Nota_ do _Tom_, diz-se nas 3.ᵃs _Cordas soltas_. A 2.ᵃ _Nota_, diz-se nas mesmas _Cordas_, carregando-se com o dedo immediato ao _mendinho_ no meio que fica entre a 1.ᵃ, e 2.ᵃ _Divisaõ_[1]. A 3.ᵃ _Nota_, diz-se nas 3.ᵃˢ _Cordas soltas_. A 4.ᵃ, diz-se nas mesmas _Cordas_, carregando-se com o dedo _grande_ no meio que fica entre o dedo que fórma a _Pestana_, e a 1.ᵃ _Divisaõ_. A 5.ᵃ, diz-se nas _Primas soltas_. A 6.ᵃ, diz-se nas mesmas _Cordas_, carregando-se com o dedo immediato ao _mendinho_ no meio que fica entre a 1.ᵃ, e 2.ᵃ _Divisaõ_. A 7.ᵃ, diz-se nas mesmas _Cordas_, carregando-se com o dedo _mendinho_ no meio que fica entre a 3.ᵃ, e 4.ᵃ _Divisaõ_. A 8.ᵃ finalmente, diz-se tambem nas mesmas _Cordas_, carregando-se com o mesmo _mendinho_ no meio que fica entre a 4.ᵃ, e 5.ᵃ _Divisaõ_, como na pratica melhor se poderá entender[2]. §. XVII. _Da Posiçaõ dos dedos na Guitarra com Teclas._ Como algumas _Guitarras_ trazem por esquipaçaõ, hum pequeno _Teclado_ com seis _Teclas_, no fim, ou na parte inferior do _bojo_ da mesma _Guitarra_[3]; deve-se advertir, que a posiçaõ dos dedos da maõ esquerda he a mesma, como se naõ tivesse _Teclas_; porém a da maõ direita he differente, pois se póde tocar com todos os dedos; e muitas vezes com hum só dedo se póde tocar em duas _Teclas_. [1] Esta 1.ᵃ, e 2.ᵃ _Divisaõ_, saõ as que ficaõ acima do dedo que faz a _Pestana_. [2] Estas mesmas _Notas_ podem dizer-se 8.ᵃ abaixo, seguindo em tudo a mesma ordem de dedos, nas 6.ᵃˢ, 5.ᵃˢ, e 4.ᵃˢ _Cordas_ da _Guitarra_; e quem souber correr, tanto nas _Cordas graves_, como nas _agudas_, as oito differentes _Notas_, que fórmaõ hum _Diapasaõ_, isto basta para o poder fazer em todos os demais _Tons_. [3] Este Instrumento com _Teclas_, he agradavel ao _Tom natural_ de _C_; porém sendo _Musica accidental_, em que occorraõ alguns _Transportes_, nunca se pódem bem dizer; porque como a força do pulso da maõ direita se contrapoem á do pulso da maõ esquerda, e estes a poucos espaços se achaõ enfraquecidos; he por esta causa que já mais se pódem dizer com distincçaõ, e firmeza os _pontos_ dos referidos _Transportes_. §. XVIII. _Dos Transportes._ Chama-se _Transporte_, á elevaçaõ que se faz do _Tom natural_ de _C_, para outro _accidental_, em que para o formar nos servimos de huma _Pestana postiça_, ou do dedo _index_, que atravessado com firmeza, bem no meio de duas _Divisoens_ d'arame, suppre pela mesma _Pestana_. Na _Guitarra_ pódem haver tantos _Transportes_, quantos saõ os _meios_ que ficaõ entre as _Divisoens_, que circulaõ o _ponto_ do _braço_ da mesma _Guitarra_; porque assim como no meio de cada duas _Divisoens_, ou com a _Pestana_ atarrachada, ou com o supplemento do dedo _index_, se póde formar hum _Tom accidental_, como já se disse no §. XVI.; da mesma sorte tantos pódem ser os seus _Transportes_[1]. [1] Quando ha _Transportes_, he o primeiro dedo da maõ esquerda o maior, por motivo do _index_ estar atravessado para formar a _Pestana_. Dos dedos da maõ direita, he sempre o _polegar_ o primeiro; e por sua ordem os outros, como já se tem dito. §. XIX. _Do modo como se deve formar a Pestana com o dedo index, para dedilhar._ Como as _Cordas_ deste Instrumento saõ affinadas em 3.ᵃ, deve-se advertir, que como em qualquer parte que se atravesse o dedo _index_, servindo de _Pestana_, se fórma hum _Tom_ de 3.ᵃ _Maior_, com tudo, como a largura do _braço_ da _Guitarra_ he grande, e muitas vezes o dedo da _Pestana_, por enfraquecer, naõ póde bem abranger a sua extensaõ; e além disto, porque as _Cordas_ d'arame serem mais os dedos, do que as de tripa, por esta causa, para dedilhar em qualquer dos _Tons accidentaes_, bastará atravessar o dedo _index_ da _Pestana_ nas tres primeiras _Cordas agudas_, ou nas tres ultimas, sendo a _Musica grave_, como tudo melhor se observará nas seis _Sonatas_, que compûz. §. XX. _Do modo como se devem tocar algumas Posturas chêas de vozes._ Quando algumas vezes se quizer tocar com a maõ aberta, em algumas _Posturas chêas de vozes_, nunca será fincando primeiramente as costas das unhas, mas sim correr-se-haõ rapidamente todas com a polpa do segundo dedo da maõ direita, dando a pancada sempre debaixo para cima, isto he, das _Primas_ para as outras _Cordas_; porém quando se quizer fazer maior estrépito, ou restulhada, poder-se-ha fazer com as costas das unhas dos quatro dedos, sem o _polegar_, dando a pancada de cima para baixo, isto he, dos _Bordoens_ para as demais _Cordas_. §. XXI. _Do modo como se devem tocar as Figuras que tiverem duas, tres, e mais cabeças pegadas em differentes distancias, ou duas caudas._ Quando duas, tres, ou mais _cabeças_ das _Notas_, ou _Figuras_, estaõ perpendicularmente unidas em diversas distancias, devem-se ferir, ou tocar todas juntas, com dous, ou tres dedos, que de ordinario devem ser o primeiro, segundo, e terceiro. Quando porém, alguma _Figura_ tiver duas _caudas_, huma para a parte superior, e outra para a inferior, he para se dar _dobrada_ em duas differentes _Cordas_, como v. g. o _Signo G_. do _Espaço_ acima da _5.ᵃ Linha_, se tivesse duas _caudas_, era para se dar tambem o mesmo _Signo_ na _2.ᵃ Corda E_. §. XXII. _Do Estylo, e de quando se deve usar de Apojos de Capricho._ Para se tocar qualquer _Peça_ com flexibilidade, bom modo, e gosto; e finalmente com huma viva, e tocante expressaõ, a que chamaõ _Estyllo_; se attenderá muito aos _Apojos_ de _Capricho_, que o mais das vezes, e quasi sempre se devem suppor, e entender, ainda que naõ venhaõ expressos; porque a _Musica_ sendo (se possivel for) toda _Apojada_, nunca já mais será defeituosa, o que pelo contrario succederá, usando-se de outros quaesquer signaes, como por exemplo, muitos _Trinos_, _Portamentos_, e outros deste genero, sem que positivamente venhaõ expressos no papel; e para isto se fazer com a precisa regularidade, se observaráõ as seguintes _Regras_. REGRA I. Todas as vezes, que do _ponto_, ou _Signo_ de huma _Corda solta_ se passar para o _ponto_, ou _Signo_ da _Nota superior_, por exemplo: do _G_ das _Primas_ para _A_; ou do _E_ das _Segundas_ para _F_; deve-se ferir antes a _Corda solta_ com a maõ direita, e logo sem demora cobrir com o dedo, ou dedos da maõ esquerda o _ponto_, ou _pontos_, que vierem notados no papel; e esta mesma _Regra_ se observará tambem pelo contrario, descendo da _Corda carregada_ para a _solta_. REGRA II. Vindo escritas no papel tres _Figuras_, que desçaõ _gradatim_ com _3-Que-altera_ expressos, ou sub-entendidos; ou ainda mesmo huma _Colchêa_ com duas _Semi-Colchêas_ pegadas, e consecutivas, sempre antes da primeira _Figura_ se poderá dar hum _Apojo_, que será sempre o _Signo superior_ em distancia de hum, ou meio _ponto_, segundo o pedir a _formaçaõ_, ou _composiçaõ_ do _Tom_ por onde se toca: e vindo seis _Figuras_ com _6-Que-altera_, o referido _Apojo_ se poderá dar antes das tres _Figuras_ ultimas. REGRA III. Quando o _Andamento_ da _Musica_ naõ for muito apressado, e as _Figuras_ descerem _gradatim_, póde-se dar em cada huma dellas hum _Apojo_, que será sempre a _Nota superior_. REGRA IV. Se duas, tres, quatro, ou mais _Figuras_ estiverem notadas em hum mesmo _Signo_, na ultima se poderá dar hum _Apojo_; porém se vier alguma _ligada_, se dará o dito _Apojo_ na _Figura_, que vier depois da _Ligadura_. REGRA V. Finalmente toda a _Figura_, que vier escrita antes de qualquer _Pausa_, naõ vindo notada com este signal, que serve, como já se disse, para se dar _solta_, sempre antes della se poderá dar hum _Apojo_. Estes preceitos sendo arbitrarios, naõ deixaõ de ser observados na praxe; porque como os _Apojos_, a que chamo de _Capricho_[1], servem de tanto ornamento á _Musica_; e porque com elles esta nunca já mais he desagradavel; segue-se, que huma vez que se tire do Instrumento hum bom som, que naõ seja suffocado, nem surdo; sendo assim, em qualquer _Peça_ que se houver de tocar com estes signaes de expressaõ, estou certo, que se faráõ expectaveis naõ só dos Sabios, e inteligentes Professores, como inda mesmo dos que nada entendem de _Musica_. [1] Quando se derem _Apojos_, naõ só os de _Capricho_, como tambem os que vierem apontados, a maõ direita ferirá a _Corda_ do _Signo_ do _Apojo_, e logo rapidamente se passará para a _Figura_ expressa, que se dirá sempre _ligada_ debaixo da mesma pancada da _Figura Apojada_. §. XXIII. _Do modo como se devem dizer as Figuras Ligadas._ Quando o Principiante vir sobre duas, tres, quatro, ou mais _Figuras_, huma _Linha curva_, a que na _Musica_ chamamos _Ligadura_, indica este signal, que a maõ direita deve ferir a _Corda_ que pertence ao _Signo_ da primeira _Figura_, e as demais devem dizer-se debaixo da mesma pancada; pondo os dedos da maõ esquerda nos _Signos_ das _Figuras_ que vierem _Notadas_. §. XXIV. _Da Escála Diatonica._ Depois de instruido o Principiante nestes documentos, passará á seguinte _Escála_, que exponho, numerando por cima de cada _Nota_ as _Cordas soltas_, que demonstro com hum _s_, e as que devem ser feridas, com o numero dos dedos que lhes competem. [Música] §. XXV. _Dos trinta e dous Intervallos, que se achaõ na extençaõ do braço da Guitarra._ Contando successiva, e _Diatonicamente_ os _pontos_, e meios _pontos_ que a _Guitarra_ encerra dentro dos seus limites, isto he, contando do _C_ do primeiro _Bordaõ_, até o _G_, ultimo _ponto_ das _Primas_, he certo que encerra trinta e duas distancias, ou _Intervallos_, como se póde vêr no seguinte _EXEMPLO._ [Música] §. XXVI. _Entoação primaria, em que se mostraõ numericamente os dedos, que competem aos Signos na distancia de duas Oitavas, contando do_ C _da 6.ᵃ Corda até o_ C _que fica acima das Primas._ [Música] [Música: _Valor das Minimas com Vozes._] [Música: _Valor das Seminimas._] [Música: _Valor das Colchêas._] [Música: _Valor das Semicolchêas._] [Música: _Valor das Minimas, e Seminimas._] [Música: _Valor das Seminimas, e Colchêas._] [Música: _Valor do Ponto de augmentaçaõ._] FIM. INDEX DO QUE SE CONTEM NESTE VOLUME. PARTE I §. I. _Da Musica._ Pag. 9. §. II. _Dos Signos._ ibid. §. III. _Das Linhas, e Espaços._ ibid. §. IV. _Das Claves._ 10. §. V. _Do Conhecimento dos Signos._ ibid. §. VI. _Dos Accidentes._ 11. §. VII. _Da Ordem de assignar os Accidentes._ ibid. §. VIII. _Dos Accidentes Originais, e Accidentaes._ ibid. §. IX. _Dos Tempos._ ibid. §. X. _Do Compaço._ 12. §. XI. _Das Figuras._ ibid. §. XII. _Do Valor das Figuras._ 13. §. XIII. _Da Sincopa, ou Contra-tempo._ ibid. §. XIV. _Da Derivaçaõ dos Tempos Numerarios._ ibid. §. XV. _Da Numeraçaõ das tres primeiras Pausas nos Tempos Numerarios._ ibid. §. XVI. _Dos Andamentos._ 14. §. XVII. _Dos Signaes Significativos._ 15. §. XVIII. _Dos Signaes Expressivos._ 16. §. XIX. _Do Tom._ 17. §. XX. _Da Divisaõ do Tom._ ibid. §. XXI. _Do Conhecimento do Tom._ ibid. §. XXII. _Do Accompanhamento._ 18. §. XXIII. _Do como se numéraõ os Intervallos, e Notas de cada Tom._ 19. §. XXIV. _Da Differença das Especies._ ibid. §. XXV. _Das Especies, com que se accompanhaõ as Notas de cada Tom._ 20. §. XXVI. _Da Reducçaõ dos Acordes antecedentes nas posturas da Guitarra._ 21. §. XXVII. _Da Analogia, e Transiçoens ordinarias dos Tons de 3.ᵃ Maior._ ibid. §. XXVIII._Da Analogia, e Transiçoens ordinarias dos Tons de 3.ᵃ Menor._ 23. PARTE II. §. I. _Da Invençaõ, e serventia da Guitarra._ 25. §. II. _De como deve sêr construida a Guitarra, e das qualidades que nella se requerem para sêr bem affinada._ 26. §. III. _Da Perfeiçaõ da Guitarra._ 27. §. IV. _Advertencia ao Curioso._ ibid. §. V. _Das Cordas._ ibid. §. VI. _Do Numero das Cordas._ ibid. §. VII. _Do Modo como se devem pôr as Cordas._ 28. §. VIII. _Do Modo como se devem ferir as Cordas._ ibid. §. IX. _Do Som solto._ ibid. §. X. _Dos Signos, que competem a cada huma das Cordas._ 29. §. XI. _Das Doze Divisoens d'arame, a que chamao_ Trastes, _as quaes dividem todos os meios pontos, que se achaõ no braço da Guitarra, e da Numeraçaõ de todos os Signos, assim naturaes, como accidentaes, que competem a cada huma das Cordas deste Instrumento._ ibid. §. XII. _Da Affinaçaõ._ 31. §. XIII. _Da Posiçaõ, e Numeraçaõ dos dedos._ ibid. §. XIV. _Da Pestana postiça, que se atarracha nos boracos da Guitarra para augmentar o Tom._ 32. §. XV. _Dos Tons accidentaes, que se fórmaõ com a Pestana postiça._ ibid. §. XVI. _Da Ordem dos dedos, que devem carregar as Cordas, e Notas dos Tons accidentaes, estando o index servindo de Pestana._ 33. §. XVII. _Da Posiçaõ dos dedos na Guitarra com Teclas._ ibid. §. XVIII. _Dos Transportes._ 34. §. XIX. _Do Modo como se deve formar a Pestana com o dedo index para dedilhar._ ibid. §. XX. _Do Modo como se devem tocar algumas posturas cheias de vozes._ ibid. §. XXI. _Do Modo como se devem tocar as Figuras, que tiverem duas, tres, e mais cabeças pegadas em differentes distancias, ou duas caudas._ 35. §. XXII. _Do Estylo e de quando se deve usar dos Apojos de Capricho._ ibid. §. XXIII _Do Modo como se devem dizer as Figuras ligadas._ 36. §. XXIV. _Da Escála Diatonica._ 37. §. XXV. _Dos Trinta e dous intervallos, que se achaõ na extensaõ do braço da Guitarra._ ibid. §. XXVI. _Entoaçaõ primaria, em que se mostraõ numericamente os dedos, que competem aos Signos na distancia de duas Oitavas, contando do_ C _da 6.ᵃ Corda, até o_ C _que fica acima das Primas._ ibid. _Segue-se huma Collecçaõ de alguns Minuetes, Marchas, Contradanças, etc. para uso, e desembaraço dos Principiantes._ FIM. ERRATAS. Na pagina 20., linhas 5., onde se lê: _a Septima póde tambem ser Maior, Menor, e Superflua_, deve-se lêr: _a Septima póde tambem ser Maior, Menor, e Diminuta_; e o que seja septima Diminuta, póde-se vêr na Nota 3 da mesma pagina. Na mesma pagina, linhas 10., onde se lê: _os exemplos, que ponho nestes Tons_, deve-se lêr: _os exemplos, que ponho neste Tom_. No Epigraphe da Collecçaõ dos Minuetes, Marchas, Contradanças, etc., aonde se lê: _in somnes_, deve-se lêr: _insomnes_. COLLECÇAÕ DE ALGUNS MINUETES, MARCHAS, CONTRADANÇAS, E OUTRAS PEÇAS MAIS USUAES, COM ACCOMPANHAMENTO DE SEGUNDA GUITARRA, TUDO PELO TOM NATURAL DE _C_; E HUMA TOCATA PELO TOM DE _F_, PARA USO, E DESEMBARAÇO DOS PRINCIPIANTES. _Musica enim curas abigit, insomnes infantes compescit vagientes laborantum mittigat labores, fessos reparat artus, ac perturbatos reformat animos._ Ex Boetio Cap. I. PRIMEIRA GUITARRA. [Música: MINUETE.] [Música: MARCHA INGLEZA.] [Música: MARCHA DO PRIMEIRO REGIMENTO DO PORTO.] [Música: MINUETE DE BOCHERINI, CHAMADO DOS HUNGAROS.] SEGUNDA GUITARRA. [Música: MINUETE.] [Música: MARCHA INGLEZA.] [Música: MARCHA DO PRIMEIRO REGIMENTO DO PORTO.] [Música: MINUETE DE BOCHERINI, CHAMADO DOS HUNGAROS.] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: MINUETE.] [Música: MARCHA do Baile dos Hungaros.] [Música: MINUETE da Inviada.] [Música: MINUETE da Saudade.] SEGUNDA GUITARRA. [Música: MINUETE.] [Música: MARCHA do Baile dos Hungaros.] [Música: MINUETE da Inviada.] [Música: MINUETE da Saudade.] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: FANFARRE. _Allegro Assai._] [Música: MINUETE INGLEZ.] [Música: MINUETE DA CÔRTE] [Música: SEGUNDO MINUETE INGLEZ.] SEGUNDA GUITARRA. [Música: FANFARRE. _Allegro Assai._] [Música: MINUETE INGLEZ.] [Música: MINUETE DA CÔRTE] [Música: SEGUNDO MINUETE INGLEZ.] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: CONTRADANÇA. _Allegro assai._] [Música: MINUETE.] [Música: GAVOTA. _Allegro_] [Música: FANFARRE. _Allegro assai._] [Música: GIGA INGLEZA _Allegro assai._] SEGUNDA GUITARRA. [Música: CONTRADANÇA. _Allegro assai._] [Música: MINUETE.] [Música: GAVOTA. _Allegro_] [Música: FANFARRE. _Allegro assai._] [Música: GIGA INGLEZA _Allegro assai._] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: MARCHA.] [Música: MINUETE.] [Música: MARCHA.] SEGUNDA GUITARRA. [Música: MARCHA.] [Música: MINUETE.] [Música: MARCHA.] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: CONTRADANÇA.] [Música: ALLEGRO.] [Música: MINUETE.] [Música: CONTRADANÇA DOS SALTOENS.] [Música: RETIRADA MILITAR. _Allegro assai._] SEGUNDA GUITARRA. [Música: CONTRADANÇA.] [Música: ALLEGRO.] [Música: MINUETE.] [Música: CONTRADANÇA DOS SALTOENS.] [Música: RETIRADA MILITAR. _Allegro assai._] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: MARCHA.] [Música: GAVOTA. _Allegro assai._] [Música: ANDANTINO.] SEGUNDA GUITARRA. [Música: MARCHA.] [Música: GAVOTA. _Allegro assai._] [Música: ANDANTINO.] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: GIGA INGLEZA. _Allegro assai._] [Música: PASTORELLA. _Andantino moderato._] [Música: FANFARRE. _Allegro assai._] [Música: PASTORELLA. _Andantino moderato._] [Música: COTILHAÕ. _Presto._] SEGUNDA GUITARRA. [Música: GIGA INGLEZA. _Allegro assai._] [Música: PASTORELLA. _Andantino moderato._] [Música: FANFARRE. _Allegro assai._] [Música: PASTORELLA. _Andantino moderato._] [Música: COTILHAÕ. _Presto._] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: RETIRADA MILITAR. _Allegro assai._] [Música: RETIRADA MILITAR. _Presto._] [Música: ALLEGRO.] [Música: MALBRUCH. _Andantino._] SEGUNDA GUITARRA. [Música: RETIRADA MILITAR. _Allegro assai._] [Música: RETIRADA MILITAR. _Presto._] [Música: ALLEGRO.] [Música: MALBRUCH. _Andantino._] PRIMEIRA GUITARRA. [Música: CONTRADANÇA.] [Música: MINUETE DO PRINCIPE.] [Música: MINUETE.] _Para se tocarem alguns destes_ Minuetes, Allegros, Marchas, etc _nos seus competentes_ Tons accidentaes, _por naõ cançar o dedo index, póde-se usar da_ Pestana postiça, _a qual bem atarrachada em qualquer dos quatro boracos, formará hum dos_ Tons, _que ficaõ apontados no §. XV., pag. 32._ SEGUNDA GUITARRA. [Música: CONTRADANÇA.] [Música: MINUETE DO PRINCIPE.] [Música: MINUETE.] _Fim das Peças desta Collecçaõ, escriptas no_ Tom natural _de_ C: _segue-se huma Tocata pelo_ Tom _de_ F. PRIMEIRA GUITARRA. TOCATA DO SENHOR FRANCISCO GERARDO. [Música: ALLEGRO.] _Instruido que seja o Principiante nestas piquenas Peças, que ajuntei para seu desembaraço, poderá começar a tocar, naõ só as seis Sonatas, que ultimamente compuz, as quaes correm impressas em Holanda, mas tambem outras quaesquer, pois que com esta rezumida instrucçaõ o considero apto, para decifrar outra qualquer obra, que se lhe apresente._ SEGUNDA GUITARRA. TOCATA DO SENHOR FRANCISCO GERARDO. [Música: ALLEGRO] FIM. NOTAS: Nesta versão eletrônica, a notação [8/5/3], por exemplo, representa os números 8, 5 e 3 escritos verticalmente acima um do outro no texto original. [6|], [4|] e [2|] representam os números 6, 4 e 2 com um risco escrito no fim da sua cauda. [˜] representa um símbolo semelhante a um grande ˜. [!] representa um símbolo semelhante a ! porém sem o ponto. [<|] e [|>] representam triângulos grandes apontando à esquerda e à direita respectivamente. [=.=] representa duas linhas paralelas com um ponto central entre as linhas. *** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK ESTUDO DE GUITARRA *** ***** This file should be named 63664-0.txt or 63664-0.zip ***** This and all associated files of various formats will be found in: http://www.gutenberg.org/6/3/6/6/63664/ Updated editions will replace the previous one--the old editions will be renamed. Creating the works from print editions not protected by U.S. copyright law means that no one owns a United States copyright in these works, so the Foundation (and you!) can copy and distribute it in the United States without permission and without paying copyright royalties. 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It exists because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from people in all walks of life. Volunteers and financial support to provide volunteers with the assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will remain freely available for generations to come. In 2001, the Project Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 and the Foundation information page at www.gutenberg.org Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit 501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification number is 64-6221541. Contributions to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent permitted by U.S. federal laws and your state's laws. The Foundation's principal office is in Fairbanks, Alaska, with the mailing address: PO Box 750175, Fairbanks, AK 99775, but its volunteers and employees are scattered throughout numerous locations. Its business office is located at 809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887. Email contact links and up to date contact information can be found at the Foundation's web site and official page at www.gutenberg.org/contact For additional contact information: Dr. Gregory B. Newby Chief Executive and Director gbnewby@pglaf.org Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide spread public support and donations to carry out its mission of increasing the number of public domain and licensed works that can be freely distributed in machine readable form accessible by the widest array of equipment including outdated equipment. Many small donations ($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt status with the IRS. The Foundation is committed to complying with the laws regulating charities and charitable donations in all 50 states of the United States. 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